28 de abr. de 2008

Dividindo o táxi

28 de abril de 2008


Um dia de chuva forte. Ela acena com a mão e ele também. O táxi pára. Os dois se olham, esperando que um fosse gentil com o outro. Nada feito. Ele arrisca algumas palavras. Por sorte os dois moravam no mesmo quarteirão, embora nunca tenham se visto antes. Dividiram o táxi. Já estariam em casa. Eram apenas 14 quarteirões.

Ela queria estar sozinha. Seu cabelo estava uma bagunça. Sua roupa quase toda molhada. Estava odiando aquela situação. Ele estava tímido, desajeitado. Sabia que ela estava irritada. Então perguntou se ela gostaria que ele saísse do carro. Ele não queria, mas perguntou ainda assim.

A chuva estava forte. Ela respondeu com estupidez. Ela não estava num bom dia. Ele ficou assustado com tantas grosserias. Não sabia o que fazer. Achou melhor ficar quieto. Ela estava histérica. Parecia descontar ali, um problema enorme que carregava nas costas. Ele arriscava algumas palavras, mas não tinha jeito. Ela estava indomável. Ele não agüentou. Já tinha escutado demais e agora era a sua vez de falar. Os dois estavam discutindo alto. Pareciam duas crianças brigando pelo último pedaço do chocolate. O motorista já estava ficando bravo com tanta grosseria, mas preferiu não se meter.

Já estavam perto de casa quando os dois se calaram ofegantes. Não demorou muito e agora ele começou a se explicar, tentando ficar em paz com a “colega de táxi”. Ela estava impaciente. Ele continuava procurando uma forma de resolver o mal-entendido. Não adiantava. O esforço dele era inútil. Ela não “baixava a guarda”, mas ele não desistia. Afinal, ela era linda.

Eles sabiam que logo, logo tudo ia acabar. Mas ela bem sabia que não queria chegar em casa enquanto não se desculpasse por todas as grosserias ditas, mas lhe faltava coragem. Os dois desejavam, agora, estar em câmera lenta.

Ele, pelo canto do olho, observava como o vento bagunçava o cabelo dela de uma maneira irresistível. Ela, assim, parecia inofensiva. Os dois queriam pedir desculpas. Mas como? Por onde começar? Os dois não conseguiam parar de se olhar. Ela com o cabelo bagunçado e ele todo molhado.

Eles já estavam chegando e tudo não podia terminar assim. Foi quando ela criou coragem. Perguntou, sem rodeios, se ele tinha se mudado há pouco tempo ou se já morava mesmo no bairro. Ele ficou surpreso e preferiu não comentar sobre o ocorrido. Fingiu que nada aconteceu e respondeu que morava ali há dois meses. Ela o fitou por alguns segundos. Ele tinha uma voz sedutora.

Ela deu um sorriso e disse “foi um prazer dividir o táxi com você”. Ele retribuiu ao sorriso simpático e meio que arrependido. Quando estavam no penúltimo quarteirão, ele disse seu nome, esperando que ela também se apresentasse. Mas logo eles iriam descer e ela não respondia. O táxi parou, ele ficou atônito com o silêncio. Ela passou a mão pelos cabelos, olhou em direção a ele: “meu nome é Olívia” e desceu do carro. Ela já estava indo embora, balançando os cabelos úmidos com charme. Ele, com o sorriso eufórico e quase exagerado, desceu do carro.Os dois estavam satisfeitos e andavam em direção contrária. Mas o que importa? Eles sabiam que logo logo iriam, mais uma vez, se encontrar.

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8 de abr. de 2008

deixa ser, deixa estar.

08 de abril de 2008



Ela está num momento muito dela, de mais ninguém. Ela quer estar sozinha. Não presa na solidão, apenas sozinha. E mesmo se estivesse, a solidão lhe dá forças. Ela não tem medo de se abrir, apenas, por enquanto, quer se fechar um pouco. Quer refletir, pensar, enlouquecer. Ela não pensa no que fez e tampouco se preocupa com o que poderia ter sido diferente. Talvez seja hora de fechar as portas. Não que ela goste disso, mas o coração pede, exige.
Ela não está triste e nem quer chorar, apenas quer esse momento pra ela. E se for preciso vai chorar, vai sumir, vai, ela mesma, se estranhar. Pode não ser nada, mas ela estará lá. Por esse instante não quer amigos, não tá nem aí pros inimigos. Agora, é ela por ela mesma. Sem avaliaçãoes. Sem sugestões. Apenas deixa ser, deixa estar.