19 de jul. de 2011

The space between

Eu nunca senti vontade de te fazer real, concreto e sentado ao meu lado. Na verdade, eu costumava me divertir com a distancia de três pés que existia entre a gente. Você, no topo de uma bancada qualquer do bar e eu, no salão, dançando. Eu gostava de te ver sorrindo enquanto eu virava um ou dois goles de vodka e, ao mesmo tempo, mexia nos cabelos e te olhava como você tivesse que ser meu. Embora eu não quisesse te beijar, de fato, só pra não estragar a idéia fantasiada de ter alguém pra levantar a sobrancelha devagar e jogar o corpo pro lado, numa mistura de sensualidade e esnobação. Até que você se agachou por um minuto e eu ouvi todas as minhas fichas caírem pelo chão.

Eu nunca tinha usado mais do que cinco minutos do meu dia, pensando numa maneira de te fazer sorrir com a boca fechada e com um olhar meio sem vergonha enquanto eu movia os lábios ao tocar a minha música preferida. Porque era natural, saudável e não tinha a obrigação de acontecer. Eu gostava de te ver olhando de um lado pro outro, fazendo aquela carinha de quem também tá ligado e mexendo o corpo todo só pra acompanhar a batida que rolava na noite. E eu só sabia o seu nome. Até que ela parou na sua frente e, mais uma vez, você se distraiu e abriu um sorriso maior ainda. E eu me transformei em pó, esvoaçado, pedindo por um pouco mais.

Eu não sentia essa paixão toda por você, como eu já demonstrei ou como grito aos quatro ventos de uma rua sem saída. Mas quando eu vi que alguém já possuía o seu sorriso, o seu jeito desconcertado e todas as suas tatuagens, me deu vontade de alongar as pernas só pra diminuir essa distância que, de repente, se multiplicou. E, a partir dai, eu passei a usar todos os minutos do meu dia só pra encontrar uma maneira de te perguntar quem era ela, de onde ela tinha vindo ou se você a amava. Mas eu não precisei tanto. Quando um cara se aproximou dela, você fez aquela cara apertada, de quem tá com raiva e andou em passos apressados só pra buscar explicação. Eu entendi tudo e devia ter indo embora. Mas eu não fui. Eu olhei meio de lado e você voltou de mansinho só pra ter certeza de que ela estava bem e que não deixaria acontecer de novo. Ela te deu um abraço apertado e te olhou de pertinho. E eu tive vontade de fazer exatamente o mesmo. Eu me senti pequena, engraçada e quase constrangida por ter até encontrado uma música pra gente.

Eu não sei dizer de onde nasceu esse desespero por não te ver e nem como aconteceu de eu voltar só pra ter certeza de que você realmente sentiu saudades. Mas eu não tive a sua certeza. E eu ainda insisto na mesma música, na mesma fantasia e nas várias sextas-feira só pra chutar o plano de te esquecer e apostar em mais uma noitada que, quase sempre, acaba numa cama gelada. E eu me sinto sozinha e cansada de olhares vazios e manchados pela maquiagem. Mais uma vez, te esquecer fica pra depois.

Eu não tenho certeza de quanto tempo tudo isso vai durar, mas eu desconfio que já esteja quase no fim. É porque dessa vez eu tenho certeza de que eu não perdi nada e que a gente não vai acontecer. Talvez porque, como todo mundo, eu também precise de um desses amores loucos, espontâneos e excitados que completa a gente por uma noite só. Eu só preciso acreditar e me convencer a não pensar em você, em geladeiras ou em churrascos, em dias de sol, no quintal. Ou, parar de tentar adivinhar o que você vai sentir ou o que vai dizer quando souber que, mais uma vez, eu estarei indo embora, sendo já tarde demais.
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