27 de jun. de 2011

Feliz acaso

Porque, às vezes, me dá vontade de ser sozinha e de viver sozinha. Perdida, secreta e segura num lugar onde ninguém me conheça, me critique ou me analise tanto só pra tentar me entender. É que eu tenho pensamentos abusivos, exagerados, e, muitos deles, medíocres. E meus. Talvez eu precise mesmo passar mais um tempo fora só pra me livrar de julgações, expectativas ou comparações.

Aliás, não suporto a idéia de ser comparada. A ninguém. Até mesmo se me trouxer benefícios em forma de elogios passageiros. É que eu sou assim. Egoísta, auto-suficiente e todas essas baboseiras que o povo fala quando quer ser livre, desprendido e deixado em paz. Eu sou perigosa, infantil, tola e paciente, por um tempinho, só pra te esperar sorrir. É que eu sou bem prática, mesmo não conseguindo fazer mala pequena para uma viagem de dois dias.

É que eu tenho uma agressividade escondida, mas não sou calculista como muitos pensam ou como a astrologia me define. Prefiro dizer que sou uma mistura calma e repentina de tudo isso. A verdade, é que ninguém pode classificar uma pessoa de insensível só porque ela não curte declarações públicas de afeto ou homens que baixam até as calças só pra fazê-la sorrir. Afinal, o engraçado mora do lado da cutucada improvisada, da mordidinha no queixo e do abraço um pouco mais apertado. É que eu sou romântica, mesmo não fazendo questão de ligar todos os dias ou de prendê-lo, junto comigo, pelo final de semana inteiro.

É, talvez, eu mereça mesmo um tempo, constantemente, me bem dado só para que eu fique só. Parada, complicada e abandonada. Diferente dos outros, eu preciso me sentir só e também rejeitada, incompreendida e revoltada. Só assim pra eu sentir vontade de olhar pra trás e perceber o que deu errado. É porque nem tudo em que a gente acredita, existe. E quase nada do que a gente defende com caras, unhas e telefones desligados na cara, tá certo de fato. É que os nossos olhos só são capazes de ir até onde a nossa imaginação vai. Na verdade, eles param um pouco antes, no meio do caminho e é por isso que muitos dos carões inchados são quase invisíveis pra quem tá do lado de fora.

Viajar leva tempo, dinheiro e coragem. Ficar sozinho te leva às paredes do seu quarto imaginário, numa casa sem jardim e sem porta de fundo. É que eu gosto de fugir, de me liberar e da falsa sensação de que ninguém vai me notar. Só que ninguém vive assim. De rua em rua, de quarto em quarto ou em diversos terminais. É que dá medo quando as pessoas se aproximam e começam a notar que aquela pele lisinha, na verdade, carrega rugas e expressões de intensidade. E aquele sorriso bondoso e generoso, uma hora acaba e vai embora, como quem não quer nada. É porque ninguém quer ser descorberto pelo lado fraco e ser analisado é a pior parte.

É que me dá preguiça de esperar que aceitem meus olhos cansados, em dias de muito trabalho ou o meu jeito bravo quando eu perco o último capítulo de um seriado. É que a intimidade é constrangedora, invasiva e cheia de possibilidades. E ela precisa de um espaço largo, conveniente e é quase perfeccionista quando acha que estão dificultando a entrada. É que eu sou assim. Discreta, de olhares e de vontades apressadas. E, quase sempre, eu ando na contramão, mudo de direção e chego antes ou depois do tempo estipulado. É assim que eu faço e é assim que eu me acho.

Talvez, eu precise mesmo morar sozinha para que, então, eu me canse dos cubos de chocolate, dos episódios baixados ou das minhas palavras soltas pela casa. E, assim, quando eu não mais aguentar ser chata sozinha, eu volte para o meu quarto de fotos penduradas, pronta para colar pedaços e costurar falsos rasgos. É que eu preciso de um tempo para que eu sinta vontade de te dar meu número e te ver ligar, apaixonado, como num feliz acaso.

"Some women need to run free, until they find someone just as wild to run with."
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15 de jun. de 2011

Eu me liberto, eu bebo planos e, por agora, eu digo não.

Demorou um pouco mas agora eu sei. Não faz muito tempo que eu mudei de idéia, mas eu não me importo em não fazer trabalho em grupo porque, por agora, eu acredito que duas ou mais idéias juntas não vai dar a lugar algum. Todos os dias, eu fico feliz quando posso dirigir sozinha só pra poder cantar bem alto, sem que alguém me implore para calar a boca, por não aguentar o meu tom desafinado. Mais do que nunca, eu faço questão de dormir bem no meio da cama em tamanho queen size, pra ter a sensação de que ninguém pode me impedir de afastar um pouco mais.

Eu olho do outro lado da rua e vejo pessoas apaixonadas. Aonde quer que eu vá, existem casais abraçados e incrivelmente felizes como se não houvessem contas para pagar. E eu não consigo fazer o mesmo. É quase como um insulto para a minha idéia de liberdade e me dá logo vontade de abrir os braços, só pra ter certeza que ninguém tá me roubando espaço.

Eu vejo pessoas se encantando por outras e eu não sinto mudança nenhuma porque, enquanto ela deseja um final de semana a sós com ele, eu penso na minha viagem de 30 dias por Nova Iorque. Enquanto ele pensa no melhor presente que vai dar a ela e no que vão fazer no dia dos namorados, eu bebo duas ou mais taças de vinho e fico feliz por ter tempo de ficar em casa e escrever sentimentos mal contados.

Eu encontro gente sorrindo, suspirando e confortáveis em ligações românticas. E eu, fico contente por saber que ainda tenho créditos pra confirmar a hora com o meu entrevistado. Eu vejo casais reservando mesas para um jantar a dois e eu me sinto bem com a praticidade do delivery, por não precisar descer do carro. É esquisito e eu me irrito com essa mania chata de não dar continuidade.

As pessoas estão se apaixonando e eu pareço não me importar se ele não pedir meu número antes de ir embora. Enquanto ela pensa no vestido branco e na casa mobiliada, eu fico arquitetando planos livres pra quando eu sair da faculdade. Enquanto ele procura as alianças que mais combinam com os dois e em como vai ser o pedido de casamento, eu perco a hora pesquisando pré-requisitos para bolsas de pós-graduação, no exterior.

As pessoas começam a mudar e eu pareço não me importar em ficar parada no mesmo lugar, com as mesmas previsões e com as mesmas paixões desprendidas, avulsas e solitárias. Quando eu conheço alguém, eu escrevo cenas românticas e até fecho os olhos só pra simular um desses amores loucos, bandidos e inspiradores. Mas não dura muito tempo e eu até posso sentir o alívio de não ter que abrir os olhos e saber que era a realidade. Tudo isso, pra não atrapalhar meus planos imensos de abraçar o mundo, com dois braços que mal alcançam as prateleiras do meu próprio quarto. Ou, talvez, por ter meu coração completamente ocupado e não disposto a permitir mais entradas.

Eu fujo, sem perceber, de pessoas sensíveis, bacanas e que parecem querer algo mais que uma simples noitada. Talvez, porque eu não tenha paciência de esperar até que ele aceite os meus dias mal humorados, as minhas vontades exageradas ou as minhas reclamações constantes pela cidade. E eu acabo perdendo meu tempo com aqueles que não se dão nem o trabalho de me fazer repetir o nome. E é assim que as coisas são e é assim que eu faço. As pessoas mudam, se apaixonam e eu continuo sem novidades, não me importando em trocar passos errados. Eu não me prendo, não olho pra trás e não tenho nada que me faça querer voltar. E eu me liberto, eu bebo planos e, por agora, eu digo não, só pra convencer meu coração de que, talvez, aqui não seja mais o meu lugar.

"Everybody's changing and I don't feel the same".

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