É pedir muito?
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Hoje eu senti raiva. Uma raiva triste, uma raiva vaga. Hoje eu me senti vazia, incompleta como se houvesse um buraco ralo, raso, sem nada. Hoje eu senti a pressa de algo que precisa ser consertado logo, de uma vez. Hoje eu me senti como se algo estivesse desviando o meu caminho e estivesse me puxando de volta pra algum lugar. Um lugar que eu não sei como chegar e nem sei onde vai dar.
Hoje eu me senti indecisa como se a minha vida tivesse que ser decidida em dez minutos. Como se a minha sentença estivesse prestes a chegar e que fosse preciso fazer uma escolha. Eu me senti desligada, confusa e triste. Triste por não saber onde ir, o que fazer ou como seguir. Nem mesmo pensamentos me ocorriam na mente. Era como se eu estivesse dormente por dentro, como se algo tivesse me paralisado. Eu não sorria e nem chorava.
Hoje eu me senti ameaçada, por mim mesma. Eu senti medo do meu próprio passo, do próximo passo. Eu me senti covarde e isso desabou em mim. Hoje, mais do que nunca eu me senti perdida num mundo que era só meu. Um mundo que se resumia a um quarto estreito, um travesseiro entre as pernas e um espaço pequeno para o próximo passo. Eu senti vontade de juntar os pedaços quebrados e refazer o vaso. Eu senti que não preciso ter medo de passos grandes, de pulos altos e de mergulhos profundos. Eu não preciso me conformar com o raso, o tanto faz ou com aquilo que vier. Não, isso não é o bastante pra uma alma que precisa sorrir.
Eu sei que posso ir contra as probabilidades. Eu não suporto mais essa mesma rotina cronometrada. Eu preciso de menos verdade porque a verdade cansa e cansa de um jeito que me irrita.
Eu quero tomar café gelado e fazer de uma terça feira o melhor dia da semana. Eu quero ter vontade de fazer algo que eu ainda não sei o que é. Vontade de algo, de alguém, de nada. Eu posso sentir saudade apenas por sentí-la e ainda assim, chegar a noite e sentir que valeu o dia. Hoje eu senti raiva, uma raiva triste, uma raiva vaga, mas agora... Agora eu só estou cansada.
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