Eu sabia de tudo e não pude evitar.
-
Era uma madrugada de outono. Você e eu, sentados no topo de um telhado baixo. Estava frio, você me deu o casaco e me abraçou de repente. O seu corpo no meu, um calor agradável. Estamos contando histórias de conto de fadas e fingindo que acreditamos em toda essa palhaçada. Nossos olhos brilham no escuro da noite. Dormir não é uma possibilidade. Estamos no telhado, observando a pequena cidade em paz. Daqui, podemos ver vidas. Gente de verdade. De um lado, alguns amigos que parecem bêbados e felizes, abraçando uns aos outros como velhos amigos fazem. Do outro, aquele casal de estranhos que se ama por uma noite e que, provavelmente, amanhã nenhum lembrará do outro. Mas que, por agora, eles estão indo pra casa apaixonados. A polícia dá voltas, como se algo tivesse que ser resolvido. E, incrivelmente para uma madrugada de sexta-feira, não há. Parece que o mundo está em nossa mesma sintonia.
Acabamos de sair de um bar. Ir pra casa não é uma opção. Está frio e você está fumando um cigarro. Escondemos bebidas na bolsa e no casaco. Não há nada que eu queira a mais. Estamos advinhando desenhos em nuvens. Só pra passar o tempo. Você me conta histórias da sua vida e eu te divirto com algumas das minhas noites mal dormidas. Num minuto ou noutro, você me beija. Um toque suave, delicado e ao mesmo tempo selvagem. Estamos tranquilos. Somos amantes.
Sem que você perceba, eu me paraliso e me fixo no seu sorriso mágico, que me faz acreditar que tenho tudo comigo. E, de fato, eu tenho. Eu senti sua falta e achei que fosse passageiro. Me enganei. Pensei em você e em estar ao teu lado quase todas as noites, antes de adormecer. Nada do que você dissesse ou não fizesse iria me livrar. Eu precisava correr pra pegar o primeiro vôo de volta e te encontrar mais uma vez. Você não me garantiu nada e eu sabia das minhas condições. Eu decidi pôr tudo em risco. Deu certo e eu estou aqui. Você segurando minha mão e eu no aconchego do teu colo, sentindo a tua respiração tranquila. Tudo está certo, tudo está exatamente como eu desejava e nada me abala agora. Olho em volta e não há nada que eu queira acrescentar. Sim, eu tenho tudo.
Mas aí, algo me cutuca. Me remexe. Me sacode. Tá, tudo bem. Não é nada disso. Eu só queria fingir um pouco e ser feliz.
.