Os homens possuem uma maneira meio cínica e cruel pra fazer uma mulher ficar caidinha por ele. É um tanto como um jogo de malabarismos, onde eles sabem direitinho onde pôr ou não a mão, só pra te fazer olhar pro lado e sorrir. Eu até poderia dizer que todos os homens são iguais, mas a verdade é que ainda me resta um fio de esperança, bem escondidinho e tímido sentado no canto do meu coração. E é por isso que eu penso que, talvez, o problema esteja comigo. Talvez, algo em mim esteja bloqueando os raios apaixonados que, sei lá, estejam perdidos por aí. Talvez eu só queira enxergar o raso e o fácil, aquilo que não vai fazer me mostrar muito. Talvez eu tenha medo de me prender e isso esteja refletido em todas as células do meu corpo. Talvez eu tenha mesmo uma aversão complicada a continuidades.
O pior disso tudo é que quando você decide se desarmar e deixar as coisas acontecerem, parece já ser tarde e ninguém mais te leva a sério. Então, o que resta a ser feito ou a ser dito? Eu fiz um pacto comigo mesmo pra tentar vencer esse cubo de gelo que, às vezes, parece substituir meu coração. Eu prometi a mim mesma que sempre que minha cabeça dissesse que era muito meloso fazer isso ou aquilo eu iria, na verdade, fazê-lo. Porque eu acreditei que era assim que as pessoas sensíveis faziam. E eu comecei a mandar mensagens de Bom Dia e até a piscar o olho de mansinho na frente dos seus amigos. Porque você, um dia, me disse que não conseguia sentir o que eu sentia. E que eu era fria, distante e difícil. Eu não te contei na hora, nem depois e, talvez, você nunca vai saber. Mas, naquela mesa, quando eu baixei a cabeça foi porque o meu corpo se estremeceu todinho. E eu não queria que você visse.
Você me fez querer mudar o meu jeito de olhar, de falar e o meu jeito de sentir. E eu parei com aquela mania de gostar em partes e decidi me deixar ir. Você segurou minha mão com força e disse, bem no meu ouvido "eu amo muitas coisas em você". E, por aquele instante, eu senti que estava fazendo a coisa certa e que meu coração estava começando a se sentir livre pra poder viver. Porque, talvez, já tivesse se cansado de encontrar outros corações e mesmo assim voltar pra casa vazio. Eu ainda tentei fazer joguinhos de "prós e contras" só pra tentar me convencer de que eu não queria nada sério e que você era só mais um. Não deu.
O mais cruel de te ver indo assim é que depois de me distorcer inteira por dentro e me fazer demonstrar tudo aquilo que estava escondido, você parece não ter notado nada disso. Porque você ainda acha que eu não to nem aí e que eu não faço questão de estar contigo e nem penso na gente enquanto estou indo dormir. Você parece querer algo que eu não tenho. E ainda fica bravo com isso. Eu daria tudo pra saber o que eu fiz ou o que eu não fiz. Ou até mesmo pra entender o que você espera de mim. Porque esse lance de que "você deve saber" não está funcionando e, embora você não acredite, eu estou abrindo meu coração pro que quer que tenha que vir. Pena você não me levar a sério e decidir partir mesmo assim.
Durante esse pouco tempo que a gente se viu e ficou junto e deu risada e deu chilique, eu sempre fiquei esperando pelo momento de te ver indo embora. Sempre que a gente se despedia, meu peito ficava abafado, aperriado, imaginando motivos pelos quais você poderia se cansar de mim e do meu jeito meio contrariado. Mas você sempre voltava, com aquele olhar preguiçoso, aquele sorriso malvado e o seu cabelo espetado. E voltava também mais carinhoso e decidido a dar o próximo passo. Até que um dia, quando eu menos esperava, você realmente se foi. Você foi embora, sem dizer uma só palavra. E eu ainda tentei te convencer de que eu estava levando a sério e que eu me importava. Mas não deu. Talvez eu esteja recebendo de volta tudo aquilo que eu já passei pra frente, pra alguém, em algum lugar desse mundo. "Que seja então", foi assim que ficou decidido. Que seja, acabou. Quem sabe um dia tudo se encontre numa mão só e o meu coração não chegue tarde demais.
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