14 de out. de 2009

Inconstância

Qual o seu grau?
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Qualquer dia desses, eu juro, eu me levanto da cama, visto a primeira roupa que vier e saio lá fora sem alguma coisa pra fazer. Não vou pentear os cabelos, colocar maquiagem e, muito menos, carregar os planos na cabeça. Se você me perguntar onde estou indo? Não sei dizer. O que vou fazer? Eu não preciso saber. Vou caminhar e minhas palavras cairão pelo meu bolso rasgado. E, então, você vai conhecer minha verdade!

Ao menos uma vez, eu preciso sair sem um motivo. Eu nao vou à padaria, não vou à farmácia e muito menos à academia, embora eu precise. Eu não quero um endereço, não quero um destino, não quero um lugar pra chegar. Eu só quero andar. E, por favor, não me pergunte que horas vou voltar porque eu morro de preguiça de voltar na hora marcada. Eu morro de preguiça de estar pronta no horário, de vestir a roupa apropriada e de usar a mesma cara. Sim, eu tenho várias caras, acredite! Acho um tédio sorrir o dia inteiro e estar sempre preparada porque, na verdade, eu quase nunca estou preparada. Eu sou insegura, estranha e muito paranóica! Imagino cenas absurdas, problemas mal resolvidos e, mais grave, gente esquisita ao meu redor. Penso demais que às vezes fico sufocada. Sou cheia de dúvidas e detesto ser pontual!

Parágrafo único: Gosto quando chegam mais perto mas, por favor, não fique lá plantado por muito tempo. Eu preciso de tempo, espaço e liberdade!

Não pise no meu calo se você achar que não vai aguentar o tranco! Não me idealize! Não seja estúpido! Eu preciso que você me deixe ser, embora eu também goste de um pouco de pressão. Nao a ponto de me deixar louca ou, se quiser, vai fundo. Talvez você goste, mas isso não é garantido! Na verdade, tudo o que sou se resume em contradição.

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17 de abr. de 2009

De volta pra casa..

Saudade. Poderia eu começar de outra forma? Não, por isso eu digo: eu sinto uma puta saudade! Saudade de acordar no meu quarto e dá de cara com a minha cortina improvisada. Saudade de me levantar emburrada, atrasada pra faculdade. Saudade do sol, do calor, do ventilador. É a falta da minha cidade, do meu país, da minha língua. É a falta desse povo que abraça, ri alto e não sabe nem o seu sobrenome. Falta do arroz, do feijão e, principalmente, da farofa. Saudade de tudo. Da faculdade, daquele velho banquinho, do trabalho feito de última hora. Tenho saudade do meu carro, do caminho que tenho decorado na cabeça e até do posto de gasolina. Mas o tempo passa e passa rápido. E um dia eu poderei sentir-me aliviada por saber que consegui. Eu olharei para trás e relembrarei todo o caminho percorrido, enquanto em minha frente estará a porta que me levará de volta pra casa!

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31 de mar. de 2009

Falta, que falta me faz

"Tem lugares que me lembram minha vida, por onde andei.."
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Lembranças. Tem sentimento mais angustiante que a saudade? Algo mais sufocante do que a sensação de saber que o passado não volta e que a cada dia tudo muda? Algo mais incômodo do que a sensação de lembrar de pessoas que passaram pela nossa vida e que hoje você não sabe nem a cor atual do cabelo?

A idéia de voltar a lugares que te fizeram abraçar o mundo por amar e te fizeram dar gargalhadas com amigos, os quais você acreditou ser para sempre e que hoje só se resumem em fotos, é frustrante. É complicado quando o coração só se traduz em lembranças. Lembranças de pessoas que, talvez, nunca mais apareça na sua frente ou que você só terá notícias quando esse seu amigo, que juntos tantas emoções foram compartilhadas, morrer. E que nada mais poderá ser resgatado. Triste né?!

Lembranças de risadas inocentes de uma época ingênua e descompromissada. Lembranças de lugares que hoje não existem mais e que te fazem lutar para que a imagem não suma entre as inúmeras recordações que há no peito. O colégio.O cachorro-quente. A faculdade. As unhas num vermelho aberto. Nada disso volta, não nas mesmas condições. Não estou aqui numa tentativa de lhes dar o conselho: "Aproveite enquanto tem!" Essa não é a questão. Ah! se fosse. Aproveitando ou não, a saudade ainda dói. Digo até que quanto mais o momento seja aproveitado, maior é a saudade. Se é que é possível medí-la.

A questão é que o tempo passa muito rápido. Corre como numa fórmula I. E a gente nunca tá preparado para as mudanças. Para as despedidas. Quantas vezes você não desejou, com todas as forças, que sua vida continuasse do mesmo jeitinho, com as mesmas pessoas? Tudo isso pelo medo de perdê-las? Ter novas amizades é m-a-r-a-v-i-l-h-o-s-o! O ruim é sentir que seu mundo está caminhando numa direção e seus antigos amigos estão seguindo por outra. O ruim é saber que a partir de agora, tudo vai ser diferente. E que agora as cobranças são outras, os objetivos são diferentes de quando a única coisa que importava era conseguir reunir t -o-d-o-s os seus amigos para uma tarde de cinema, imagem e ação e gargalhadas.

Hoje, o importante é conseguir permanecer no emprego, se refugiar em outra pessoa para não se tornar um solitário sufocado de desejos e saudade. Por que, às vezes, numa época da vida, os amigos somem. É só a esposa, os filhos, e a renda mensal no fim do mês. Tem gente que se esquece dos amigos com uma frieza inigualável . Mas não os culpo. É necessário trabalhar muito e não ter tempo suficiente para "bobagens". Bobagens que nos faziam tão bem e nos fizeram aprender tanto. Mas é assim que tudo acontece.

Admiro aqueles que sempre cultivam os amigos. Apesar da falta de tempo, sempre conseguem dar um minuto de atenção um ao outro. Eu me sinto em falha com alguns "antigos amigos". E peço, humildemente, perdão. Só o que me resta agora, é o gosto amargo da saudade e o desejo incontrolável de correr atrás. Correr atrás daqueles que eu, na minha frieza, abandonei. Aqueles que tanto me fizeram sorrir um riso feliz. Aqueles que tanto quis proteger com medo de perdê-los. Mas, ainda não é tarde. E não vou deixar tardar. A dor angustiante da saudade não me permite tamanha crueldade.

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26 de mar. de 2009

Quase (não) lá

"nadei, nadei e num pingo d'água me afoguei"
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Sabe quando você sente que está na luta, que está no páreo e de repente, você estraga tudo? Pois é. É engraçado. Você tem consciência do que está fazendo mas em você age uma força horrenda e tremenda que não te permite parar e aí você vai estragando tudo, com uma velocidade feroz e todas as suas conquistas vão passando pela sua cabeça, todos os seus momentos sacrificados se resumem num ato totalmente indigno de tanta importância, mas que possui consequências intensas em você.

Depois você se arrepende, você chora, puxa os cabelos e amanhece com o rosto totalmente desconfigurado e como consolo pensa: " ah, eu fiz o que o meu coração mandou" , mas aí você logo começa a chorar de novo e percebe que esse papo de consolo não tem nada a ver e que seu mundo parece não ter mais jeito. E aí, a única vontade que você tem agora é de se eternizar no seu sono e só acordar quando tudo já estiver resolvido. Só que um "porém" surge: você que precisa ter a decisão de começar tudo outra vez. A fome chega, você come uma besteirinha sem gosto, vê um programa fútil na tv e se mergulha em possiblidades.

Até esse drama na sua vida desaparecer.
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23 de mar. de 2009

Nem tudo tem um porquê

"Entender é sempre limitado. As coisas não precisam mais fazer sentido. Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é possível fazer sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada."
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Não, eu não sei bem quem sou. Sou cheia de indecisões. Sou cheia de sonhos. Cansei de tentar me decifrar, tentar me definir. Sou estranha. Sou complicada. Sou esquisita. Sou de fases. A verdade é que eu sou uma bagunça de certo. Tentar me entender é o caminho mais curto para me encher de mentiras e entrar na moda do 'padronizar'. Sim, padronizar os sentimentos, as verdades, o certo, o imoral. E isso, eu bem sei que não quero.

Eu quero mesmo é explodir minhas emoções e não guardá-las num potinho. Não tenho medo de rir das minhas mancadas. Eu gosto do confronto: eu versus eu mesma. Não temo ridicularizações. Eu faço de tudo mas não deixo o dia escapar. Eu mergulho, eu me entrego e nem sei o que é 'razão'. Pensar leva muito tempo e o meu coração é apressado. É impaciente demais para esperar. Eu gosto do espontâneo. Eu gosto do inventado. Já percebeu que quanto mais pensamos, menos sentimos? Então, evito pensar e perder tanto tempo buscando a melhor forma de IR sem se magoar quando voltar.

Eu gosto do improviso e este não combina com raciocínio. Prefiro correr o risco de sofrer do que o risco de perder aquelas boas e sinceras gargalhadas. Eu me permito sentir, eu me permito extravasar. Acho até mágico o cair das lágrimas. Por isso, eu odeio quando meu lado inútil e covarde insiste em “dar as caras”. Quando insiste em me alugar. Eu tenho pavor das minhas crises de medo. Minha cabeça dói e fico com uma expressão nojenta e mal humorada.

Então, apenas me respeite, porque até mesmo eu não me suporto. "E se me achar esquisita,me respeite também, até eu fui obrigada a me respeitar" , já disse Clarice Lispector. Os meus sentimentos são de uma intensidade tão absurda que, às vezes, tudo que eu queria era ser menos. Menos intensa. Menos exagerada. Minhas fantasias, meus sonhos me consomem de tal forma que já não cabem em mim.

Talvez eu me sinta bem, me limitando a não entender.
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4 de jan. de 2009

Curiosidade

Você também tem a sua
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Sempre tive uma estranha curiosidade que me faz querer saber. É a esposa que gasta o dinheiro em lingeries, é o marido que tem outra, é a amante apaixonada. É o mal contado, é a mentira, é a verdade.

Sempre tive uma fixação de adivinhar pra onde ele está indo ou de onde ela vem. Uma curiosidade que me faz imaginar. Mas você? Não sei. Posso saber dos seus detalhes? Senta aqui comigo. Senta no chão, a gente não precisa de formalidades. Quer um copo d'Água? Por nada. Agora começa a falar. Perdoe-me pela minha intromissão, mas de você eu quero mais.

Me fala das tuas lágrimas já secas, das tuas palavras presas, do teu sorriso acanhado. De onde vem esse cabelo bagunçado, essa barba mal feita e essa camisa desbotada? Me fala do teu quarto, da tua cama, do teu travisseiro que toda noite suporta o peso dos seus sonhos, mas , por favor, não me fale das mulheres que você já teve. Negócio fechado? negócio? Não, pensando bem, esquece essa palavra. Eu não quero saber das tuas ligações importantes, das tuas reuniões entediantes e, muito menos, do teu chefe sacana.

Eu quero saber daquele relógio quebrado, daquela camisa rasgada e daquele chiclete colado na sola do teu sapato. Me conta a história de cada um deles. Me fala do teu lápis quase acabado e do pedaço de papel amassado. O que seriam aquelas frases escritas? Te incomoda minha curiosidade? Me perdoe, mas o teu resumo nao me basta. Eu preciso dos teus mínimos detalhes.

Então, me fala daquela manhã que você não quis levantar, do dia que você perdeu o emprego, das tuas coisas empacotadas, do teu último salário. O que são aquelas panelas sujas, aquelas taças de vinho, aquelas almofadas no chão?

Eu entendo o teu jeito tímido de encontrar palavras, mas onde você vai? Senta aqui, ainda não terminou.
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