28 de fev. de 2011

"You are a nice girl, pretending to be a bad girl"

Durou o tempo que foi merecido.


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"You are a nice girl, pretending to be a bad girl". Foi com essa frase sua que fui dormir noite passada. A gente tinha acabado de chegar de uma festa e deitamos na sua cama, um de frente pro outro. Você olhando pra mim com seus olhos quase tímidos e, ao mesmo tempo, prontos para atacar. Foi quando eu sorri meio que maliciosamente e você me descobriu. Eu travei, quase que cética, por você ter me descoberto tão espontaneamente e descaradamente que me surpreendeu. Você não precisou de muito para saber tudo aquilo que eu estive negando por todo o meu tempo. Talvez eu tenha te dado de bandeja o que eu nunca nem mesmo mostrei pra ninguém. Talvez algo me fez sentir-se imune a ti.

O quarto estava escuro e eu podia ouvir a melodia de uma música calma que vinha da porta entreaberta. Eu lembrei o dia que saímos para jantar e que você pediu uma salada só pra me acompanhar numa dessas dietas malucas, que quase nunca funcionava. Você comia fazendo careta e, entre uma garfada e outra, tomava dois goles de cerveja, contrariando todo o plano que você teve de começo. E eu achei a atitude mais ingênua e doce do dia. Você pagou a conta e quando a gente estava de saída, você se ofereceu pra segurar minha bolsa pesada que parecia maior que eu. E eu queria mesmo tirar uma foto, só pra mostrar aos duvidosos o tamanho da sua sensibilidade. É porque você era gentil e, ao mesmo tempo, esnobe. Você tinha aquele jeito selvagem de sorrir com os olhos, com a boca e com os seus cílios enormes de cor clara.

Eu fui dormir pensando no nosso primeiro encontro, de como o seu sorriso me dizia mais do que devia e como você ficava bravo por isso. Eu lembrei o desespero que me deu por você ter me ignorado por longos seis dias. Eu podia jurar que no dia seguinte você iria ligar e não aconteceu. Nenhum sinal. Foi quase como um soco na minha cara e eu quase pude ouvir vozes que repetiam "I told you, I told you". E me deu uma raiva e uma vontade de te procurar só pra fazer você cuspir toda a sua farsa de bom moço. Mas aí, numa tarde vazia, eu senti meu celular vibrar e era você, se desculpando pela demora e sacudindo o meu dia. No meio de uma avenida movimentada, eu lembro bem, soltei as mãos do volante e comecei a cantar bem alto feito uma louca mas feliz. Naquele dia, minha alegria se extravasou por todas as beiradas e eu nem pude me conter. Foi inspirador e eu me contagiei de você.

Algumas vezes, eu ficava observando você enfiado debaixo do edredom com carinha de sono e quase implorando por uma massagem nas costas. Foi quando eu comecei a me apaixonar por você. E eu lembro que ficava brava quando você exibia aquela cara de "é só mais uma" sempre que perguntava o dia que eu teria que ir embora, mas, na verdade, não querendo que esse dia chegasse. Você apertava meu braço com força, me pedindo pra ficar a noite toda e quase me fazendo chantagens. Eu lembro que os meus dias ficaram alegres, bem humorados e cheios de você. E eu senti saudade de quando eu saltava da cama ao ouvir o primeiro toque do celular e das dores musculares causadas pelos movimentos apressados pra te encontrar.

Sem perceber, eu já tinha te entregado tudo. Eu já tinha me disponibilizado inteira pra você. E eu costumava me perguntar se você também se sentia assim ou se eu estava fantasiando demais aquelas noites repentinas. Uma vez, eu quase me convenci disso e quase desisti de tudo, não fosse por aquela noite quando você chegou de mansinho e disse a frase mais doce que eu já ouvi em toda a minha vida, "I could be here, the whole night, watching you". E eu pensei que tinha entendido errado e que meu inglês estava murcho e enferrujado. Mas não estava. E eu sorri com o coração como eu não fazia a muito, muito tempo.

Eu fui pra casa tonta, sem ar e quase inconsciente de tanto martelar na minha cabeça de que poderia não ser nada ou que poderia ser um blefe ou a garantia de uma próxima noitada. Aquilo me atacou a noite inteira e todos os meus dias seguintes. Eu só pensava em você e de como eu tinha vontade de cruzar com o teu olhar em cada esquina ou em qualquer mesa de bar que eu fosse. Você construiu e fez parte dos melhores meses daquele ano distante e independente da minha vida. E eu mudei completamente de idéia e rezei com as mãos grudadinhas para que o tempo demorasse o dobro do que o normal, a passar. Eu não queria saber do que estava por vir nem, muito menos, do que não iria mais existir. Mas você teve medo e reagiu. Você percebeu antes que eu pudesse me preparar e sumiu, devagarzinho, como quem quisesse culpar as circunstâncias que surgiam.


Eu lembro bem daquela noite um pouco fria e sozinha quando você me deixou ir, sem nem insistir que eu ficasse por mais cinco minutinhos. E eu senti que algo tinha mudado. Você ficou o tempo todo de cabeça baixa, com os olhos desviados e com um sorriso acanhado. Você perguntou mais uma vez quanto tempo me restava e eu já sabia do que se tratava. E eu percebi que não haveriam mais noites engraçadas, abraços espalhados ou até mesmo aquele seu português arranjado. E eu senti saudade de quando eu fui pra casa vestindo a sua camisa tamanho large e me sentindo completamente protegida, como se isso fosse possível. Eu lembrei quando bebi demais e você me carregou pela escada, me deitou na sua cama e me cobriu com pelo menos três edredons, jurando que não iria fazer nada. Você cuidou de mim e limpou toda a sujeira que eu insistia em fazer pelos cantos da sua casa. Não haveriam mais noites no sofá, nem sua TV ligada, nem a gente rindo do fato de você gostar de Keeping up with The Kardashians.


Os meus dias voltaram a se desbotar e eu voltei a sentir náuseas. Eu lembrei quando você pegou um dos meus brincos só pra guardar de lembrança, quase que fazendo piada pelo fato de um dia eu ter que ir embora. E pra quê se, no fim, você partiu por esse mesmo motivo. E eu ainda te liguei algumas vezes, cheia de desculpas esfarrapadas só pra ouvir o que você tinha a dizer. Mas não dava você já tinha desistido da gente.


Eu, então, mudei junto com aquilo que você deixou em mim e fiz um monte de bobagens. Me fantasiei, me pintei e me disfarcei só pra você acreditar que eu poderia ser uma dessas garotas que não dá a mínima pra nada. Nem pra ninguém. Mas não funcionou e eu tive certeza de que você estava certo o tempo todo e que eu era mesmo o que um dia você tinha dito: uma boa menina que tentava ser "má". Eu deixei passar e fui conseguindo aceitar que não existia mais você nem, muito menos, nós dois caminhando pela calçada. Eu fui topando com as tuas palavras cruzadas e o tempo passou mais rápido. E foi no dia do meu vôo marcado que eu te mandei uma mensagem de texto e te disse adeus pelo toque de um celular. Você respondeu uns vinte minutos depois e a minha vontade foi de te dá um último abraço. Mas eu não tive coragem e nem você me pediu. Eu juntei, então, as minhas malas pesadas e voltei pra casa.


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21 de fev. de 2011

Nós dois, uma sala de aula

calma, a gente vai se achar.
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Você veio de mansinho e sentou pertinho, do meu lado. Você achou que eu não saquei, mas eu vi quando olhou, a primeira vez, pelo canto do olho assim como quem não quer nada. E, depois, soltou um risinho que parecia estratégico, parecia até combinado. Foi estranho ver um cara como você assim, alto, forte, daquele tipo que não facilita pra ninguém, chegando na sala de aula e já dando aquela breve checada. Eu quase fiquei vermelha, não fosse pelo meu tom de pele que me livra desse tipo de evidência. Eu até fingi que não era comigo. Aliás, de fato, eu acreditei não ser comigo. Olhei pra trás, pro lado, pra frente e me dei conta de que era eu mesma e que estava sendo ridícula. Fiquei toda atrapalhada e estraguei tudo ao soltar um sorrisinho tímido quase que pedindo licensa pra poder existir.

Me segurei, me obriguei a não agir feito uma tonta e não adiantou. Soltei os cabelos e comecei com aquela mania irritante, que quase toda mulher tem, de ficar rebolando-os de um lado pro outro quando percebe que está sendo analisada. O professor falava, falava e eu fingia que entendia tudo, afinal é um ponto positivo a idéia de ser inteligente, esperta, cheia de conteúdo. E pra quem acha que a teoria de ser do barulho ou do fundão é sinal de ser charmoso e atraente, está completamente ultrapassado. Na verdade não passa de puro cinismo disfarçado. Ninguém gosta de gente burra. Então, lá estava eu, lá estávamos nós, com o livro aberto e a coragem de arriscar olhar, mesmo com a cabeça meio baixa e com o corpo um pouco curvado.

Perdida naquela concentração absurda que era exigida, eu deixei escorregar todo o meu estojo de lápis. A sala inteira me observava, inclusive você, só que dessa vez, sem precisar encobrir nada. Eu deixei, então, o cabelo esconder um pouco do meu rosto, numa mistura que acreditei ter sido de vergonha mas também de charme e fui sumindo, sumindo, até que ninguém mais estava olhando e eu dei de cara com as suas sobrancelhas sobressaltadas. E eu quis correr e eu quis sumir mas, a verdade, é que eu gostei do seu riso cínico antes de olhar pra frente para que eu pudesse sentir-me um pouco aliviada. E eu ainda grudei meus olhos em você por alguns segundos, tentando decifrar um pouco do que era aquilo tudo e qual poderia ser a sua música preferida.

Alguém bateu na porta e, ofegante, entrou uma menina alta, de cabelos longos e saia curta como uma daquelas patricinhas perfeitinhas e atrasadas. E você a acompanhou pelos passos, de cima a baixo. Eu virei o rosto e tentei advinhar quem de nós dois iria desistir primeiro. Você, por ter duas opções fáceis ou eu, por não querer bancar a babaca concorrendo a um posto de Miss Ninguém na sua lista disputada. E que se foda você, e que se foda ela e que se foda essa aula!

Eu não aguentei. Olhei, também, para aquela menina de cor pálida e, por fim, me convenci de que ela não era de nada. Um pouco de satisfação surgiu ao ver aquele cabelo todo assanhado, aquelas unhas enormes e aquela respiração ofegante por estar fora do horário. E eu esperei pelo bendito minuto em que você também iria perceber que ela é mesmo uma sem graça desastrada e aperriada. Não demorou muito e você encostou as costas na cadeira de trás e fingiu relaxar. Você tentou alongar o pescoço e, entre um segundo e outro, você conseguiu virar. E me olhar.

É um jogo meio rápido e, numa tentativa ou noutra, nós dois caíamos na nossa gargalhada contida, escondida e cheia de malandragem. Tudo isso porque nenhum dos dois conseguia dar o primeiro passo. Você não sabia meu nome e nem eu sabia o seu. Estávamos juntos, na curiosidade. E foi durando toda a aula até que chegou a hora da lista de chamada. Você atento de um lado e eu não querendo perder nada. O professor chamou o seu e o meu nome, e já tava tudo gravado. No fim, rolou aquele pequeno mistério de um olhar safado. E um plano foi, então, traçado.

Eu te acho, você me acha. No orkut, facebook, twitter ou até mesmo no blog da faculdade, mesmo sem trocar uma só palavra. E, foi assim que ficou combinado, embora, eu ainda prefira o tempo do envergonhado começo de fala: ei, me empresta sua borracha?? Meu nome é fulano, qual o seu?? Era tudo tão mais fácil! Mas, tudo bem, eu gostei do teu jeito tímido de escapar olhares.

E, agora, eu mal posso esperar pra saber qual o teu filme ou o teu livro favorito e a comida que você mais gosta. E eu quero saber o que mais você faz, do que você sente falta, do teu time preferido e se você tem namorada. E eu vou te checar nas fotos e observar o teu sorriso, nos mínimos detalhes. E você também, quem sabe. E, talvez com sorte e coragem, a gente solta um "OI" pro outro, estupidamente planejado, na próxima aula.
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10 de fev. de 2011

Olhos gastos

Um cansaço de não se cansar.
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Outro dia saí com algumas amigas para um barzinho qualquer. Um desses aí, de esquina. A noite foi maravilhosa. O problema foi o espanto no dia seguinte. É que, ao rever as fotos, algo estranho eu pude encontrar naquelas poses inusitadas, naqueles sorrisos um pouco forçados e naquela alegria meio que imediata. Algo estava errado. Meus olhos pareciam cansados. Não sei de quê, não sei porque. Mas eu senti que ali não era eu mesma. Algo estava diferente e foram as lentes de uma simples câmera fotográfica que me acordaram para a realidade.

Meus cabelos estavam lindos e minha pele parecia saudável mas meus olhos, não sei, algo neles faltava. Eu me senti feia, normal e sem alegria. Pior é que eu jurei que aquela noite tinha sido uma das melhores que já tive. É como se algo estivesse me martelando por dentro e só os meus olhos estivessem sofrendo todos os efeitos disso. E eu quis saber porque. Eu implorei, supliquei e choraminguei em frente ao espelho, tentando entender o porque que os meus olhos pareciam tristes, sem brilho e sem graça. A minha vida estava ótima, tudo estava ótimo. Pelo menos, eu achei, acho que estava. Tentei novas poses, novos ângulos e não adiantou. Resolvi, então, apelar para a maquiagem. Tentei cores de sombras diferentes e exageradas, rímeis com super poderes e até um daqueles iluminadores, algo que nunca experimentei, só pra tentar consertar o que parecia torto, sem riso, sem nada. Não deu certo. A maquiagem ficou perfeita e até me surpreendi comigo mesma. O problema é que bem no fundo, por trás de toda aquela frescura, algo continuava intacto e os meus olhos continuavam fatigados.

Fiquei irritada e, num gesto só, joguei todo o meu conjunto de maquiagem no cesto de lixo. De que me adiantava tentar esconder aquele olhar abatido e gasto se pra mim, não mudava nada? Eu sentei na cama, cética e sem movimentos. Me angustiava aquela sensação de não saber, de não sentir, de não poder resolver. Pensei que poderia ser culpa das longas horas de frente a televisão e às poucas horas de sono. A verdade é que eu sabia que não era nada disso. Eu sabia que, de fato, algo faltava.

Comecei a vasculhar algumas fotos, um pouco antigas. A diferença foi visivelmente atirada no meu rosto já pálido. Eu mudei. Algo mudou. O pior de tudo é que não havia uma razão óbvia, evidente, clara. O contrário, tudo parecia cada vez mais escuro e nem minha intuição resolveu se impor. Só pode ser loucura, desvio. Sei lá! Não me agradava a idéia de estar sem cor, sem encanto, sem magia. Não me agradava a idéia de ter olhos vazios.

Desliguei a luz do quarto, deitei do lado direito da cama e fechei meus olhos num ato imediato. Eu senti o coração pesado, complicado e revoltado. Algo perdera o sentido ali, naquele metro quadrado. Lembrei da noite, no bar, com as amigas. Me dei conta de que estava sim feliz, apesar de estar com os olhos cansados. Descobri que era possível, embora não me aliviasse quase nada. Pensei, pensei e pensei mais um bocado de vezes. Tentei sorrir e fingir que estava tudo bem e que tinha sido só mais um drama, daqueles que a gente inventa pra sacudir um pouco o coração. Mas as fotografias não sumiam da minha mente. Estavam presas ali, como fantasmas impossíveis de espantar.

Abri, então, os meus olhos. O escuro já tinha tomado conta de todo o quarto. E aquela sensação de estar perdida, me deixou ainda mais inconsolada. Algo, dentro de mim, estava apertado e quase podia me sufocar. Daí, uma esperança daquelas que assopram no peito, aconteceu de repente. Olhei pra cima, para um lado, para o outro e nada. Estava desesperada. Foi, então, que a resposta chegou e me tapiou três vezes na cara. Eu estava cansada de ver o mundo mas de não enxergá-lo. Foi aquele aperto de mão que dei sem querer, foi aquele sorriso que deixei escapar, foi aquela ajuda que eu não quis aceitar. Foi o cansaço de me ver todos os dias, e não me enxergar a ponto de não me amar. Sim, meus olhos estavam cansados de ver e de não enxergar. E eu estava cansada, de não me cansar.
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5 de fev. de 2011

O dia que eu decidir abrir mão de você

O meu coração vai ficar em paz.
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Meu coração já quase escapou batidas de tanto acreditar nas vezes que jurei te esquecer. Desenhei novos lugares, novas caras e novos personagens num pedaço de papel em branco. Colei bem na porta do meu quarto, de frente pra mim, só pra esquecer o brilho do teu olho cor de mel. Não funcionou. Eu até conseguia imaginar um novo rosto, uma nova forma e sentir um novo cheiro. O problema é que você ficava feito uma sombra ao redor de tudo. Eu quase podia ouvir você gritando para me alertar que eles nunca seriam você e que eu parasse de ser boba. Daí eu me rendia a compará-los e, no fim, você sempre ganhava.

É que aquele bonequinho que parecia perfeito, na verdade não era. Ele não tinha o seu jeitinho de contrair a boca e nem as suas sobrancelhas um pouco elevadas, quando queria me fazer sentir vergonha. Ele nem sequer olhava pra mim. Eu tentei, tentei e tentei, mas de alguma forma os olhinhos sempre se desviavam pro outro canto do quarto. Cheguei a acreditar que precisava de terapia. É que me dava desespero não conseguir fazê-lo olhar pra mim do jeito que você costumava olhar. Aquele olhar apertado e centrado que me amolecia. Eu desenhava e apagava. Pelo menos umas quinze vezes. De tanto tentar, o rostinho dele ficou esquisito. E então, como eu poderia substituir você?

Uma vez, eu cheguei até a perfumar o papel com um desses frascos que a gente guarda com peninha, só para momentos raros. E, mesmo assim, não adiantou. Desisti, então, daquele desenho torto de cores falsas. E eu pensei no cheiro que tinha a sua camisa que me fez desnorteada e foi difícil cair no sono. Na manhã seguinte, eu lembro bem, eu quis até vestí-la o dia inteiro só pra me sentir mais perto de você. Só que ela não me serviu muito bem. Eu me olhava no espelho e insistia em te achar e, então, cansei das várias voltas ao redor do banheiro.

A verdade é que algo seu ficou grudado aqui e eu não consigo me desfazer. Já passei madrugadas assistindo filmes de romance e cheguei a decidir que você já passou e que eu estou feliz. Até pude rir, um pouco, do meu alívio curto. E, então, eu lembrei daquela noite em que você me puxou pela mão, pra pertinho do seu rosto e perguntou quando a gente ia se ver. E me deu vontade de voltar para aquela noite, naquele bar. Já até tentei me convencer de que sua cabeça é meio desproporcional para o resto do seu corpo e passei horas de frente pra parede, insistindo pra mim o quanto egocêntrico você é e o quanto você erra, perde e omite. Eu procurei um defeitinho só para não amar você.

Eu quis fugir, eu quis me entupir de algo que não sei só pra esquecer que você existe. Eu desejei voltar para aquela noite, quando eu te conheci só pra marmelar toda essa fantasia boba que eu criei e que insiste em me puxar os cabelos, bem no meio da noite. Eu queria escapar dessa terrível sensação de que já te dei tempo demais.

Eu já até cheguei a acreditar que, talvez, você fosse uma afronta a natureza. Só assim para explicar aquela mania medíocre de fincar os pés no chão e sussurrar um “Oi” encabulado, quase sem mover os lábios.

Um dia, eu senti raiva de mim e quase me desprezei por insistir, estupidamente, em ver beleza no seu silêncio e paixão nas suas palavras pequenas, tortas e avulsas. Eu senti raiva de você e me deu vontade de te espancar e te chutar por você ser tão perfeito e, por quase me fazer pedir desculpas ao resto do mundo por ter te olhado a primeira vez.

Eu percebi que quando sinto vontade de partir pra outro lugar, há sempre uma palavra e um abraço teu que vem comigo. Quanto mais eu tento me decidir de que você não foi nada e de que eu estou bem, mais eu sinto aquela sensação de que você também carrega algo meu. E que eu não quero ter de volta. Algo me faz acreditar que esse amor se chega mais perto de não se acabar. E, então, eu decido desencanar e o meu coração percebe que não foi dessa vez, de novo. Um dia, quando eu não mais tentar me desculpar por você ser tão perfeito, eu crie coragem de me olhar no espelho e dizer que eu sou mais eu. E, assim, eu vou abrir mão do que, um dia, foi você.
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