28 de abr. de 2011

A minha promessa. O meu pecado. O ponto final.

Eu não sei dizer quando exatamente alguém deixa de querer as coisas por ela ou para ela mesma. No meio da aula, parada no trânsito e até sentada numa sala de reuniões, para discutir a próxima pauta, eu consigo te fazer prioridade e lembrar de você. Lembrar dos teus braços cruzados, da tua pele em cor bronzeada e do seu jeito distraído, ao lançar um sorriso acanhado. E eu logo penso no dia que eu vou te encontrar, no momento que você me olhar e o que pode ou não ser dito. Tudo fica agitado, iluminado e configurado como se fosse o bastante pra tudo. Pra mim.

Quantas vezes alguém mesmo precisa ver para entender os olhares vazios e o sorriso contido de quem diz "não" o tempo todo? Quantas vontades e respirações difíceis serão necessárias para que alguém entenda que não existe um ponto de encontro entre duas ruas paralelas? Porque será mesmo tão difícil aceitar que ele, talvez, não goste de vinho enquanto você espera por um jantar a sós? Quantos sinais óbvios serão necessários para que alguém entenda que não será ele quem te fará uma massagem nas costas ou que irá trocar o óleo do seu carro, quando for preciso?

Dia apertado. Horas corridas. Coração vazio. Corpo sem dono. E perca de tempo, pensando num plano pra te chamar de meu. Ou, num plano pra te deixar ir. Parece que tudo desaparece e não dura o suficiente para acompanhar essas várias tentativas arranjadas de te esquecer. Tentativas erradas, fracassadas e que possuem efeitos contrários e medonhos. É uma vontade de ter, de tocar e de sentir que parece não ter permissão para acabar ou simplesmente morrer. É uma lembrança segura, bruta e que permanece por entrelinhas de músicas românticas ou em fotos reviradas pelo quarto.

É uma vontade que nasceu, mas que não aconteceu. É um sentimento que existe mas que não foi vivido. É quase como um amor ofendido, que vai contra as regras e parece não ter conquistado a nota máxima pra te fazer sorrir de volta. E fica assim, como tá. Você de um lado, sorrindo em pontos "X's" e essa vontade, perdida pelos cantos, esperando por um jeito de ser levada para a tua área de cobertura, como se o amor fosse paciente, tranquilo e sem pressa de chegar e viver. Mas você não deve saber disso.

E quando alguém percebe mesmo que um "não" quer dizer muita coisa? E quantas milhas voadas serão necessárias para que alguém entenda que certas coisas não mudam? Como fazer alguém aceitar que ele não será aquele que te dará um beijo na cabeça, de leve, te pedindo pra ter cuidado e voltar pra casa logo?

Você diz que sente saudade mas nada será dito. E nada irá mudar. É porque você não vai me ensinar as regras do futebol americano, não vai me levar pra te ver jogar, não vai brincar com palavras difíceis para que eu não entenda e nem vai me pegar pelo braço e dizer, na sala de um dos seus amigos: vem, senta aqui! Você pergunta por mim, mas não vai me pedir pra não ir embora, nem vai me colocar no banco da frente do seu carro e me levar pra casa se eu beber demais. Porque é assim que você faz. Quando meu coração sorri por dentro e se ilude, você me deixa de lado e finge estar bravo com alguma outra coisa, só pra fazer aquela cara de sério e que não tem tempo para bobagens. Porque é assim que você é. E vai me fazer olhar no espelho pra tentar descobrir qual era o problema com a minha roupa ou se fiz ou falei algo desnecessário. Só pra me fazer encontrar uma desculpa e justificar o teu jeito errado, que não foi de encontro ao meu.

Só mais essa vez. E essa é a minha promessa, a minha dívida e o meu pecado. E é, também, o meu consolo para acreditar que tudo ficará calmo e tranquilo como deveria ser. A última vez. E esse é o meu ponto final e o dia de se desfazer de fotos salvas, camisas guardadas e de vontades aperriadas. É o dia de te dizer adeus e até nunca mais.
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23 de abr. de 2011

Miss-understood?!

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: as pessoas não me entendem*. Elas não percebem quando eu preciso estar só, deitada, sentada, em pé mas calada. De preferência trancada no meu quarto. É que, às vezes, eu não tenho nada a falar e meus ouvidos parecem ocupados demais para escutar. E, então, eu simplesmente fujo de todas as perguntas, vírgulas e espaços em branco que uma conversa, numa roda pequena, consegue ter. Só pra não chegar a minha vez de falar, a minha vez de sorrir ou a minha vez de concordar.

Eu não sei dizer, ao certo, quantas vezes eu já fui mal compreendida. O pior é que só me resta aguentar os olhares trocados entre os corredores. Ou o que mais cabe a mim dizer ou fazer? "Não, não foi isso que eu quis dizer"; "Não to com raiva de você, mas com a situação"; "É que eu to lendo meu livro"; "É que eu não quero ir"; "Eu sei que não é culpa sua, é que eu queria tanto"; "É que eu sinto falta"; "Eu não disse isso"; "Você me entendeu errado"; "Não é você, é que estou com raiva". Nada deu certo, alguma outra sugestão?

Todo dia, quando acordo, eu olho pro espelho e decido que eu não preciso ser eu mesma, todas as horas do meu dia. Eu tento acreditar que posso sorrir quando estou com raiva, ter paciência quando dizem o que eu não quero ouvir e, acima de tudo, mostrar que sou feliz quando eu sei que está faltando algo. Eu tento fazer tudo isso porque eu percebi que ser mal compreendida significa, quase sempre, desvalorizar alguém ou atirar pedra nelas. Ninguém entende que eu só preciso de um minutinho de silêncio pra deixar a alma respirar.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Eu preciso de tempo, espaço e liberdade*. É que eu nasci um pouco mais independente do que, de fato, me é permitido e a consequência disso bate na minha porta até hoje. As pessoas ainda não se acostumaram e agem como se fossem vítimas do meu grito intuitivo que diz, sempre que pode, "me deixa em paz, por um pouco, que eu preciso sentir raiva primeiro pra que depois ela venha a passar". O problema é que as pessoas só entendem o grito e, por isso, me dão as costas e vão embora. E eu fico esperando pra que elas voltem sem que eu precise explicar o porquê de ter feito ou dito isso ou aquilo. Elas não entendem que, às vezes, explicar a razão de estar com raiva pode incomodar mais do que sentí-la.

Ser mal compreendida é quase como ficar triste três vezes mais ou ter que ficar o dobro do tempo trancada no quarto. Algo começa a fazer sentido e agora eu acredito que pra gente poder ser mesmo a gente, é preciso esperar até a hora de dormir pra que ninguém seja ofendido, envolvido ou incomodado com a verdade que não pode escapar. O que ninguém entende é que eu não consigo esperar nem, muitos menos, disfarçar. É que quando nada do que eu quero dá certo, eu preciso remoer todos os detalhes, chorar pelo meu fracasso e ficar sozinha pra aceitar que nem tudo foi feito pra mim. Eu preciso de tempo suficiente pra criar coragem de voltar pro mundo e esquecer do que deixou de ser ou do que não pôde acontecer. Os dois minutos que eu dedico todos os dias, de frente ao espelho, são completamente desperdiçados. E eu vou contra todas as chances que eu tinha depositado na minha tentativa frustrada de mudar.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: eu sempre tive uma alma que parecia não ser minha*. E isso também me dá medo. Na maioria das vezes eu falo sem pensar, penso o que eu não devo e reservo tempo demais para o que eu sei que não vai acontecer. Eu gasto quase todos os meus créditos em sonhos que possuem a probabilidade mínima de vir a se realizar e, de alguma forma, eu gosto desse fio impossível que passa diante dos meus olhos. Eu tenho certeza que existe algo que respira dentro de mim e que não responde aos meus comandos. As pessoas não entendem mas eu também não. É que meu inconsciente consegue falar mais alto quando bem entende, sem que eu precise estimular como muitos dizem.

Eu, quase sempre, peço pelo direito de controlar as minhas reações avessas e compulsivas, mas acredito que esse seja um pedido difícil de ser concedido. E, nesse meio tempo, eu continuo gritando em cada esquina e sendo mal compreendida, só por querer um pouco mais de tempo do que a maioria das pessoas precisam quando estão com raiva, tristes ou famintas. É que nenhuma parte do meu corpo tem a habilidade de separar em cômodos o que eu devo sentir, a cada minuto do meu dia. Por isso, você não vai me ver sorrindo, nem dando "Bom dia", nem muito menos disposta a entender o que estão tentando dizer por entrelinhas.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Os meus pensamentos me levam longe demais para que eu aceite as paredes do meu quarto ou as rodovias que não me levam pra onde eu quero ir*. Isso assusta alguns, mas assusta também a mim. Porque, quase sempre, eu tenho medo do que estar por vir ou de como eu vou reagir. Mas as pessoas não me entendem e agem como se eu quisesse descontar todo o meu gênio contrariado, bem em cima delas. Quando tudo o que eu preciso é ficar sozinha, na minha condição de tentar descobrir qual outro caminho pode estar sorrindo pra mim. E qual outro caminho eu ainda posso seguir.

*Mencionando:
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2010/11/passos-largos.html
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2009/10/um-ir-e-vir.html
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16 de abr. de 2011

Até que a taça de vinho perca a graça

Quanto tempo exatamente leva pra que alguém perceba que o problema pode estar bem dentro, entre as paredes do seu próprio quarto?

Já faz algum tempo que eu mudei. Tudo começou quando, de repente, eu troquei o jeito que eu mexia os cabelos e a forma de penteá-los. Depois, eu mudei a meneira de se vestir e, também, as coisas que eu escrevia e os livros que eu lia. Minha maquiagem estragou, meus vestidos curtos se esconderam e a luz do meu closet já não precisava estar acesa para que tudo pudesse fazer sentido. Com a lâmpada queimada, eu ainda podia escolher o que vestir pra sair só pela estreita claridade que vinha da veneziana do banheiro. O que vier, o que puder, o que couber. Não vem ninguém na contramão.

Já faz algum tempo, eu sei. Eu voltei, eu mudei. Uma taça de vinho na mão, uma porta fechada e um sussuro no pé do ouvido quase pedindo explicação. E quanto tempo mesmo leva pra alguém perceber que algo está errado? Será esse um jogo de advinhações ou apenas uma estrada escura que não oferece muitas direções? E quanto tempo exatamente leva pra que alguém descubra o caminho de volta? De volta para o que antes fazia, o que antes comia, o que antes sentia? Ou será esse, um caminho sem volta? O mundo gira como quem não quer esperar e as palavras ficam soltas e confusas como que num céu nublado. E quando alguém percebe que está tudo se tornando irreversível?

As ruas estão vazias, ou não. E eu ainda procuro a diferença. Mesas lotadas de um lado, gente dançando do outro e uma banda alegre que toca uma música que contagia mas que não me move um músculo sequer. Quando exatamente alguém percebe que pode voltar atrás? Será essa a escolha errada ou será ela, a escolha que não existe? Poderá esse mesmo alguém encontrar uma forma de se reiventar e voltar a pentear e mexer os cabelos de forma envolvente, bem de frente ao espelho? E voltar a usar vestidos marcados, atraentes e que parecem dizer algo mais que "vai e volta logo"? E poderá esse alguém ensaiar um novo andar, um novo olhar, sem precisar mudar a direção ou o código da ligação?

A noite está agitada para alguns e silenciosa para outros. A música inspira alguns e agride a outros. Os carros têm luzes fortes e velocidades alteradas. Parece que o pé não obedece ao controle das mãos e o destino certo parece nunca chegar. O ponto final parece exato, de todas as maneiras que um dia existiram e que agora mudaram. Quando exatamente alguém consegue olhar para o que tem em frente e sentir vontade de avançar? E quanto tempo mesmo demora para que isso aconteça se alguém estiver disposto a aceitar? As coisas acontecem mesmo por uma razão ou a razão é simplesmente o dia que esse alguém vai levantar e sacar que já esperou tempo demais? Quanto tempo leva para que o pulo entre duas pedras, o salto entre dois rios estreitos e o pensamento entre dois mundos seja completamente superado?

Já faz algum tempo, eu sei. Meu cabelo não é o mesmo, as cores do meu guarda roupa mudaram e meus pés parecem mais frágeis a um salto alto. Quanto tempo mesmo demora até que tudo isso volte a ser como era? Quantas noites quietas, calmas e contidas serão necessárias para que o olhar ansioso do agora tenha, também, a brisa ofegante do calor de antes?

A noite está apenas começando e eu não quero ir embora. Não, sem pelo menos, gastar as poucas notas que me restam ou o brilho escovado dos fios que se levam com o vento. É cedo ainda, minha maquiagem não está nem borrada, meu pé não tem calos e minha bolsa de mão ainda não me irritou por ser pequena ou grande demais. Ainda nem passou da meia noite e minha casa parece estar tão longe. Eu não quero ter pressa de chegar.

O lugar está lotado, a música parece se acertar e você parece tão seguro ao comprar esses dois drinks no bar. Quanto tempo exatamente leva pra que alguém perceba que assim que a vida deveria estar? Quanto tempo mesmo leva para que o sol volte a raiar? O dia vem e o dia vai. E quando esse tempo voltar, por favor, vem aqui me chamar.
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