23 de abr. de 2011

Miss-understood?!

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: as pessoas não me entendem*. Elas não percebem quando eu preciso estar só, deitada, sentada, em pé mas calada. De preferência trancada no meu quarto. É que, às vezes, eu não tenho nada a falar e meus ouvidos parecem ocupados demais para escutar. E, então, eu simplesmente fujo de todas as perguntas, vírgulas e espaços em branco que uma conversa, numa roda pequena, consegue ter. Só pra não chegar a minha vez de falar, a minha vez de sorrir ou a minha vez de concordar.

Eu não sei dizer, ao certo, quantas vezes eu já fui mal compreendida. O pior é que só me resta aguentar os olhares trocados entre os corredores. Ou o que mais cabe a mim dizer ou fazer? "Não, não foi isso que eu quis dizer"; "Não to com raiva de você, mas com a situação"; "É que eu to lendo meu livro"; "É que eu não quero ir"; "Eu sei que não é culpa sua, é que eu queria tanto"; "É que eu sinto falta"; "Eu não disse isso"; "Você me entendeu errado"; "Não é você, é que estou com raiva". Nada deu certo, alguma outra sugestão?

Todo dia, quando acordo, eu olho pro espelho e decido que eu não preciso ser eu mesma, todas as horas do meu dia. Eu tento acreditar que posso sorrir quando estou com raiva, ter paciência quando dizem o que eu não quero ouvir e, acima de tudo, mostrar que sou feliz quando eu sei que está faltando algo. Eu tento fazer tudo isso porque eu percebi que ser mal compreendida significa, quase sempre, desvalorizar alguém ou atirar pedra nelas. Ninguém entende que eu só preciso de um minutinho de silêncio pra deixar a alma respirar.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Eu preciso de tempo, espaço e liberdade*. É que eu nasci um pouco mais independente do que, de fato, me é permitido e a consequência disso bate na minha porta até hoje. As pessoas ainda não se acostumaram e agem como se fossem vítimas do meu grito intuitivo que diz, sempre que pode, "me deixa em paz, por um pouco, que eu preciso sentir raiva primeiro pra que depois ela venha a passar". O problema é que as pessoas só entendem o grito e, por isso, me dão as costas e vão embora. E eu fico esperando pra que elas voltem sem que eu precise explicar o porquê de ter feito ou dito isso ou aquilo. Elas não entendem que, às vezes, explicar a razão de estar com raiva pode incomodar mais do que sentí-la.

Ser mal compreendida é quase como ficar triste três vezes mais ou ter que ficar o dobro do tempo trancada no quarto. Algo começa a fazer sentido e agora eu acredito que pra gente poder ser mesmo a gente, é preciso esperar até a hora de dormir pra que ninguém seja ofendido, envolvido ou incomodado com a verdade que não pode escapar. O que ninguém entende é que eu não consigo esperar nem, muitos menos, disfarçar. É que quando nada do que eu quero dá certo, eu preciso remoer todos os detalhes, chorar pelo meu fracasso e ficar sozinha pra aceitar que nem tudo foi feito pra mim. Eu preciso de tempo suficiente pra criar coragem de voltar pro mundo e esquecer do que deixou de ser ou do que não pôde acontecer. Os dois minutos que eu dedico todos os dias, de frente ao espelho, são completamente desperdiçados. E eu vou contra todas as chances que eu tinha depositado na minha tentativa frustrada de mudar.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: eu sempre tive uma alma que parecia não ser minha*. E isso também me dá medo. Na maioria das vezes eu falo sem pensar, penso o que eu não devo e reservo tempo demais para o que eu sei que não vai acontecer. Eu gasto quase todos os meus créditos em sonhos que possuem a probabilidade mínima de vir a se realizar e, de alguma forma, eu gosto desse fio impossível que passa diante dos meus olhos. Eu tenho certeza que existe algo que respira dentro de mim e que não responde aos meus comandos. As pessoas não entendem mas eu também não. É que meu inconsciente consegue falar mais alto quando bem entende, sem que eu precise estimular como muitos dizem.

Eu, quase sempre, peço pelo direito de controlar as minhas reações avessas e compulsivas, mas acredito que esse seja um pedido difícil de ser concedido. E, nesse meio tempo, eu continuo gritando em cada esquina e sendo mal compreendida, só por querer um pouco mais de tempo do que a maioria das pessoas precisam quando estão com raiva, tristes ou famintas. É que nenhuma parte do meu corpo tem a habilidade de separar em cômodos o que eu devo sentir, a cada minuto do meu dia. Por isso, você não vai me ver sorrindo, nem dando "Bom dia", nem muito menos disposta a entender o que estão tentando dizer por entrelinhas.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Os meus pensamentos me levam longe demais para que eu aceite as paredes do meu quarto ou as rodovias que não me levam pra onde eu quero ir*. Isso assusta alguns, mas assusta também a mim. Porque, quase sempre, eu tenho medo do que estar por vir ou de como eu vou reagir. Mas as pessoas não me entendem e agem como se eu quisesse descontar todo o meu gênio contrariado, bem em cima delas. Quando tudo o que eu preciso é ficar sozinha, na minha condição de tentar descobrir qual outro caminho pode estar sorrindo pra mim. E qual outro caminho eu ainda posso seguir.

*Mencionando:
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2010/11/passos-largos.html
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2009/10/um-ir-e-vir.html
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