26 de fev. de 2012

O pior dia

Eram umas 5 e pouco da tarde. O sol ainda estava forte. Uma bicicleta de lado, encostada no meio fio. Um casal abraçado. Olhando Deus sabe pra onde. Pensando sei lá o quê. Fazia calor, disso eu lembro bem. Eu desacelerei, "O que diabos eles estão fazendo ali?", foi assim que eu pensei. Eu olhei pro lado, o banco do passageiro vazio. E eu daria tudo pra estar no lugar deles, se você estivesse comigo.

Depois de quatro longos dias sem ouvir a sua voz, sem saber das tuas vontades e sem te ver dando aquele sorrisinho irônico que quase ninguém sabe, você ligou e a gente resolveu almoçar juntos mais cedo naquele dia. O pior dia. O meu coração se renovou e eu te senti de uma maneira que eu nunca havia sentido. Como se fosse sorte, como se fosse um bônus.
Como se fosse um aviso do destino, dizendo que eu já tive o suficiente. Na hora eu não entendi, mas agora eu sei. Eu te beijei, eu te toquei e eu me enchi de você como se eu já houvesse chegado no meu limite. Como se eu já tivesse superado a cota que eu deveria ter de você. Como se eu tivesse que me despedir. Talvez no fundo, bem lá no fundo, eu já sabia.

Tudo parecia calmo demais, fácil demais para quem hospedava uma bagunça imensa dentro de si. Mas estava sendo um dia feliz. Eu não iria estragá-lo por querer saber o que na verdade eu nem queria. E eu me iludi, como eu sempre fiz. Eu tinha que ir pro trabalho e você insistiu pra eu subir só por um minutinho. E eu acabei ficando a tarde inteira. Se eu soubesse antes, eu teria trabalhado todas as horas daquele dia só pra que não tivesse acontecido justamente o que eu temia. Eu teria recebido todas as ligações da semana inteira só pra que você não tivesse virado as costas pra mim depois da briga, como você fez. Naquela pior tarde, daquele pior dia.

Já faz uma semana. Ainda incomoda, ainda mexe e ainda dói. Muito. E eu choro. É porque eu olho pro lado e não te vejo mais sentado, gritando para que eu dirija mais devagar e nem tenho mais a sua cara de preocupado pedindo pra eu ligar, assim que chegar em casa. Eu não tenho mais nada, nem mesmo a esperança de que você vai ligar. Depois de tantas conversas e alguns planos soltos por aí, hoje você nem quer me ver mais. E eu fico assim, sem poder sorrir, sem querer seguir e sem ter motivos pra nada disso, enquanto você tá por aí, fazendo não sei o quê e vendo não sei quem. Esquecendo somente a mim.

Hoje, o que eu tenho é saudade. Saudade de quando eu saía da faculdade e ficava te esperando no posto de gasolina. Saudade de você tirando sarro de mim, ao dizer que minha perna direita é meio torta. Saudade de você enrolando seus dedos no meu cabelo. Saudade do teu abraço. Saudade até do seu descaso. Porque pior do que brigar com você pelos dias à sua espera é não ter nada, absolutamente nada. Você diz que eu vou ficar bem e que vão haver outras coisas. Mas e o que eu faço com esse toque sereno na alma, com esse sentimento que aperta o coração e com essa vida que se fez quetinha e doce dentro de mim? E o que eu faço com tudo isso que eu sinto por você? Não é por não querer sofrer. É por não estar preparada para o fim, para o nosso fim.
É por não querer desistir de você. Não depois de ter jogado meu coração. Não depois de ter sumido de mim.

Eu tenho vontade de você e daquelas horas de não saber o que dizer. Eu tenho saudade de quando o sorriso já bastava. E eu botava fé na gente. De verdade. Por um momento, eu realmente acreditei. Mas agora, você foi embora. Pra valer. E, de repente, me faltou força, me faltou ar e me sobraram batimentos cardíacos. O meu peito se encheu de uma coisa grudenta qualquer, que dói de um jeito que eu nunca soube.
E agora eu não sei o que fazer. Os meus dias ficaram chatos e a noite se tornou a minha melhor amiga. Dormir. Essa tem sido a minha única saída.

Dizem por aí que a vida dá muitas e muitas voltas. Quem sabe, então, um dia a gente se esbarre. Quem sabe eu te encontre numa rua qualquer e você possa me olhar de verdade. Me olhar por dentro. Quem sabe você sinta vontade de dizer que também chegou a acreditar que a gente podia ter mais da gente. Quem sabe você me olhe nos olhos e diga que chegou a sentir saudade. Um pouquinho só. E, talvez, eu consiga me sentir um pouquinho aliviada por ter me rasgado inteira. Por ter me entregado inteira. Por ter largado tudo pra me prender somente a ti. E que não foi tudo em vão e
que em você não foi apenas vazio.
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22 de jan. de 2012

Qualquer coisa que faz a gente ser a gente

A verdade é que eu me enchi. É assim que eu penso quase todas as manhãs, enquanto espero a sua ligação de bom dia. Cansei de você, me olhando como quem pensa se vai ou fica. Cansei de mim, tentando se ajustar às tuas teorias sem pé nem cabeça. E eu cansei da gente, tentando ficar firme só pra ver o que vai acontecer. Como se isso fosse bastante pra duas pessoas ficarem juntas. Eu não sei bem dizer como a gente acontece, mesmo sendo assim, tão improvável. Parece que vai sendo e pronto. Como pode ser, como dá pra ser ou pelo menos até quando eu conseguir tentar por nós dois. Se você só puder me dar meia certeza, eu aceito. Se você só puder me ver por meia hora, porque tem o racha com os amigos, eu topo. E assim vai. Eu, tentando ser mais o tempo todo e você tranquilo com o que vier. Eu sempre acho que to pronta pra te deixar ir sendo por aí. Mas você parece que sente quando eu to querendo cair fora e vem cheio de papo furado, com o seu andar meio engraçado e com aquele riso meio solto, sabendo que vai me desarmar. E desarma. Daí, já era. Eu vou deixando pra depois a idéia de desistir de você saindo do banheiro com a barba feita e a toalha, pendurada de lado.


Eu nunca vou entender porque você consegue me fazer ser mais sua sempre que me olha meio torto e me ataca com umas três palavras frustradas, ao dizer que eu não levo nada a sério. Eu fico me remoendo, tentando te fazer acreditar do contrário. Mesmo sabendo que, na verdade, é você que não acredita que a gente pode ter mais da gente. Eu repito, dentro de mim, umas cinco vezes que você é todo errado e cheio de mancadas e mesmo assim eu fico te querendo como se fosse tudo que eu precisasse. Já nem sei quantas vezes você já deu de ombros e fez um sinal de quem não quer nada e eu me levantei decidida a ir embora, mas torcendo pra que você me puxasse pelo braço. Só pra me fazer acreditar que era brincadeira ou um surto daqueles que a gente tem quando a cabeça tá cheia demais. Eu fico querendo me livrar de você até ouvir, lá do quarto, “vai ficar assim?”. E na mesma hora o meu coração se alegra e fica disposto a aguentar e esperar você decidir acreditar que a gente pode ser mais.


Eu já fiz cara feia, já dei piti e já fiz até promessa só pra me convencer a não me alegrar quando você diz que eu posso ter mais da gente. Eu insisti tanto nisso que eu me acostumei a ficar feliz com o meio mundo e o meio amor que o meio você me oferece sempre que quer ou sempre que não tem nada melhor pra fazer. E eu vou seguindo feliz, mesmo sendo tão infeliz às vezes. Porque eu pareço me contentar com os teus pedaços. Você me liga e eu vou correndo, querendo me doar inteira, acreditando que um dia você vai se tocar da besteira que tá fazendo e vai parar de me jogar suas partes e suas metades como se tivesse fazendo um favor pra gente. Mas é assim que é. É assim que vai sendo. E já não dói mais como doía no início. Mesmo ainda me fazendo chorar e jurar de pé junto que eu não vou esquecer o mundo toda vez que você ligar, só pra ter certeza que eu não coloquei outra pessoa no seu lugar, enquanto você estava abraçando todo mundo por aí. Menos a mim.


Eu insisto, bato o pé e faço das tripas coração só pra conseguir fazer parte da sua vida. E eu vou indo assim, de acordo com as tuas vontades. Me apaixonando por você todos os dias. E eu odeio quando você diz que a gente precisa ir mais devagar porque já sofreu demais e, dessa vez, não quer se enganar. Como se o meu coração pudesse organizar em prateleiras o que sentir a cada minuto que passa, mesmo sem ver a sua dúvida mudando um pouquinho de cor. Eu nunca vou entender porque esse teu jeito meio bruto, meio ogro e desleixado de falar, de comer, de respirar e me tocar sempre me faz querer mudar qualquer coisa em mim, só pra continuar te tendo por perto. Só pra não te fazer desistir da idéia de que eu posso valer a pena e que você pode apostar em mim. Só que dessa vez sem ser só pra ver o que vai acontecer.


Paciência. É isso que você me pede toda vez que eu baixo a cabeça e mostro um pouco do meu cansaço. Eu olho pro lado e vejo você, tão homem e tão menino, sorrindo e me fazendo acreditar que quer mesmo que a gente dê certo. E eu solto um sorriso bobo, meio cético mas bobo e volto pra casa com a alma toda reprimida. Eu rolo na cama. Eu te xingo. Eu me xingo. E eu durmo, ansiosa esperando a tua velha ligação de bom dia. E começa tudo de novo. E, assim, a gente vai sendo, sendo e eu vou indo. Pra algum lugar. Qualquer lugar. Só pra tentar te encontrar em qualquer um desses caminhos.


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28 de nov. de 2011

Que seja então

Os homens possuem uma maneira meio cínica e cruel pra fazer uma mulher ficar caidinha por ele. É um tanto como um jogo de malabarismos, onde eles sabem direitinho onde pôr ou não a mão, só pra te fazer olhar pro lado e sorrir. Eu até poderia dizer que todos os homens são iguais, mas a verdade é que ainda me resta um fio de esperança, bem escondidinho e tímido sentado no canto do meu coração. E é por isso que eu penso que, talvez, o problema esteja comigo. Talvez, algo em mim esteja bloqueando os raios apaixonados que, sei lá, estejam perdidos por aí. Talvez eu só queira enxergar o raso e o fácil, aquilo que não vai fazer me mostrar muito. Talvez eu tenha medo de me prender e isso esteja refletido em todas as células do meu corpo. Talvez eu tenha mesmo uma aversão complicada a continuidades.

O pior disso tudo é que quando você decide se desarmar e deixar as coisas acontecerem, parece já ser tarde e ninguém mais te leva a sério. Então, o que resta a ser feito ou a ser dito? Eu fiz um pacto comigo mesmo pra tentar vencer esse cubo de gelo que, às vezes, parece substituir meu coração. Eu prometi a mim mesma que sempre que minha cabeça dissesse que era muito meloso fazer isso ou aquilo eu iria, na verdade, fazê-lo. Porque eu acreditei que era assim que as pessoas sensíveis faziam. E eu comecei a mandar mensagens de Bom Dia e até a piscar o olho de mansinho na frente dos seus amigos. Porque você, um dia, me disse que não conseguia sentir o que eu sentia. E que eu era fria, distante e difícil. Eu não te contei na hora, nem depois e, talvez, você nunca vai saber. Mas, naquela mesa, quando eu baixei a cabeça foi porque o meu corpo se estremeceu todinho. E eu não queria que você visse.

Você me fez querer mudar o meu jeito de olhar, de falar e o meu jeito de sentir. E eu parei com aquela mania de gostar em partes e decidi me deixar ir. Você segurou minha mão com força e disse, bem no meu ouvido "eu amo muitas coisas em você". E, por aquele instante, eu senti que estava fazendo a coisa certa e que meu coração estava começando a se sentir livre pra poder viver. Porque, talvez, já tivesse se cansado de encontrar outros corações e mesmo assim voltar pra casa vazio. Eu ainda tentei fazer joguinhos de "prós e contras" só pra tentar me convencer de que eu não queria nada sério e que você era só mais um. Não deu.

O mais cruel de te ver indo assim é que depois de me distorcer inteira por dentro e me fazer demonstrar tudo aquilo que estava escondido, você parece não ter notado nada disso. Porque você ainda acha que eu não to nem aí e que eu não faço questão de estar contigo e nem penso na gente enquanto estou indo dormir. Você parece querer algo que eu não tenho. E ainda fica bravo com isso. Eu daria tudo pra saber o que eu fiz ou o que eu não fiz. Ou até mesmo pra entender o que você espera de mim. Porque esse lance de que "você deve saber" não está funcionando e, embora você não acredite, eu estou abrindo meu coração pro que quer que tenha que vir. Pena você não me levar a sério e decidir partir mesmo assim.

Durante esse pouco tempo que a gente se viu e ficou junto e deu risada e deu chilique, eu sempre fiquei esperando pelo momento de te ver indo embora. Sempre que a gente se despedia, meu peito ficava abafado, aperriado, imaginando motivos pelos quais você poderia se cansar de mim e do meu jeito meio contrariado. Mas você sempre voltava, com aquele olhar preguiçoso, aquele sorriso malvado e o seu cabelo espetado. E voltava também mais carinhoso e decidido a dar o próximo passo. Até que um dia, quando eu menos esperava, você realmente se foi. Você foi embora, sem dizer uma só palavra. E eu ainda tentei te convencer de que eu estava levando a sério e que eu me importava. Mas não deu. Talvez eu esteja recebendo de volta tudo aquilo que eu já passei pra frente, pra alguém, em algum lugar desse mundo. "Que seja então", foi assim que ficou decidido. Que seja, acabou. Quem sabe um dia tudo se encontre numa mão só e o meu coração não chegue tarde demais.

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15 de set. de 2011

"O que tiver de ser, será" e mais um pouco

O que é pra acontecer, vai acontecer. O que é pra ser seu, assim será. Eu não sei bem dizer quantas vezes eu já ouvi isso ou quantas vezes eu já me confortei só por escutar essas simples palavrinhas. Eu acho até que já supliquei pelo cantinho do coração só para que alguém advinhasse o meu desespero e me viesse com esses conselhos, sem que eu precisasse induzí-los para isso. E engraçado como sempre acontecia. É que, de algum modo, a gente gosta de fugir um pouco dessa sensação pesada de que tudo depende da gente. Eu ainda acredito que o que tiver que ser meu, será. Só que agora eu quero um pouco mais.

Eu não sei você, mas eu me pertubo com o jeito meio paciente e compassivo que a vida, às vezes, leva pra fazer a gente topar no buraco certo. E eu tenho uma vontade urgente e chata que não me deixa olhar pro lado e esperar até que chegue o mapa do caminho que devo seguir. Por agora, eu exigo um pouco mais de certeza, um pouco mais de alicerce. Porque uma grande construção não é admirada sem sair do papel. É preciso que haja mais do que linhas desenhadas e cálculos feitos no canto da folha de tamanho de 1 metro quadrado. E assim são os meus planos. Não faz sentido guardar a hora de entrar na batalha para o dia seguinte. É que não me dá conforto esperar pelo dia da minha sorte ou pelo dia que alguém vai olhar pra mim e dizer: vou apostar em você! Até mesmo porque a probabilidade disso acontecer é bem pequena. E eu não tenho medo de correr atrás, embora baste um sorriso mal humorado e torto pra me desmotivar e me fazer ficar trancada no quarto, só pra ficar bem longe de todas as críticas. Não sabendo que este é o primeiro passo para tirar o meu projeto da folha de rascunho.

Audácia. Talvez seja isso mesmo o que eu queira pra mim agora. Audácia de ir, de vir, de tentar, de fracassar, de agir. Porque eu não vejo mais graça em ir da faculdade ao estágio ou das poucas arriscadas à academia. Eu quero mais. Mais daquilo do que tá por vir, por mais que nem venha, no fim das contas. É que eu não quero mais teorias nem "achismos" que podem ser enfiados no bolso. Eu quero mais realidade e aquilo que me provoca medo, insegurança e até um pouquinho de dor. Eu quero sentir o NÃO, se for assim que tem que ser. Mas eu preciso saber que eu estava lá. E, depois, já passou, já virou poeira. Porque o que ontem eu não fui, é o que hoje eu sou, e minhas vontades se multiplicam e se espalham pelos quilômetros a frente dos meus passos meio tímidos e atrapalhados.

Eu cansei de sentir vontade de tudo e, ao mesmo tempo, de nada. E também cansei de tentar criar trabalho desnecessário só pra me distrair ou ainda de tentar encontrar mil e uma maneiras de chegar até onde eu quero ir. Quando só me basta uma delas. É cruel e até desumano como a vida, às vezes, cobra da gente o que nem mesmo existe ainda. Mas é preciso. E tem vezes que ou a gente segura firme aquilo que quer e corre atrás ou é melhor deixar pra lá, deixar correr junto com o vento. Porque apostar em metades, não dá. E eu estou disposta a me jogar inteira porque eu cansei de me poupar. O que tiver de ser, será. É, eu já entendi. Mas, por agora, eu quero mais.
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5 de set. de 2011

O primeiro a gente nunca esquece

Tá, do primeiro beijo a gente nunca esquece. A gente também não esquece da primeira bicicleta, da primeira viagem pra longe, do primeiro celular ou do primeiro carro. Assim como também não esquece do primeiro "fora". E eu não falo daquele "fora" meio torto quando você solta um olhar discreto pro colega da escola quando ele, na verdade, tá trocando figurinhas com a menina que senta bem atrás de você. Também não falo daquele cara que você jurou tá te olhando a noite toda mas que chamou a primeira saia curta, que apareceu, pra dançar. Eu estou falando do verdadeiro "fora". Daqueles que te fazem ficar sentada na cama, se perguntando o que aconteceu ou o que você falou de errado, imaginando cem diferentes possibilidades que fazem fila pra virar verdade e fazer um pouco de sentido no meio daquilo tudo.

É que ele chega perto, mais perto e te faz acreditar que talvez dê certo. Tudo que ele fala traz um pouco de graça e melodia juntas, como se ele tivesse planejado palavra por palavra só pra te roubar um sorriso desinibido e te imaginar fazendo aquela cara cética de "Pô, que cara legal". É porque ele conversa com você e fala da profissão, da familia, dos problemas do mundo e da paixão que ele tem em colecionar isso ou aquilo pelos cantinhos do quarto. E ele espera também te ouvir falar e sem nem perceber você já se entregou em detalhes. Você se atropela nas letras perdidas por ter sido pega de surpresa, ao ter a chance de ter um papo bacana sem que você esteja na cama, com ele. E você fala dos seus planos, das suas saudades e de como você anda viciada em Ben Harper. Ele só te ouve e depois vai soltando aquelas provocadas saudáveis de leve, de mansinho pra não te assustar ou não te fazer confundí-lo com os outros caras. É que ele te faz acreditar que aquelas ligacões no meio da tarde ou as horas que passam rápidas nos chats são as duas coisas que mais te agradam no dia e na semana inteira.

E ele é tímido mas parece se soltar com você e a conversa flui de um jeito incrivel, como se vocês já soubessem o que falar. Parece se escorregar na leveza que um cutuca o outro. Só que chega uma hora que dá vontade de se ver, de se tocar e de se olhar de verdade. Então, vocês marcam um encontro daqueles quetinhos, suaves e quase desconcertados por já saberem do que se trata. E surge aquele friosinho bom de sentir na barriga e aquela sensação de que algo a mais pode ser dito e sentido. E você fica nervosa de uma maneira esquisita. Talvez porque você nem estava tão afim dele, mas porque existia um pouco mais de intimidade pra um primeiro encontro e ela pode ser constrangedora e transparente demais. Mas tudo bem, você pensa, ele é legal.

É curioso como a vida se encarrega de empurrar as coisas pra frente e é engraçado como a maioria dos seus amigos percebe isso antes de você. É que já tava passando da hora, mas agora que ela chegou, eles te enchem de perguntinhas e demonstram estar mais ansiosos do que você, ao esperarem por esse dia. E você se finge de boba, como se não tivesse notado o tempo passar. Mas ele passou e o dia chegou. Você vai ao salão e faz a unha pela segunda vez na semana, depois demora pra escolher a roupa até que entra num consenso. É porque a roupa não pode ser muito curta e provocante mas também não precisa ser sem cor e três centímetros abaixo do joelho. Você escova os cabelos, escolhe a dedo a maqiuagem ideal e depois de borrar umas cinco vezes, você se convence de que tá bom, tá maneiro e que ele vai gostar. Faltam vinte minutos e o perfume fica pra quando ele tiver mais perto de chegar. Tá, faltam dez minutos e talvez já seja hora de se perfumar pra não ficar muito forte e fazê-lo vomitar, no minuto que você entrar no carro. Tudo isso porque é perturbador ficar parada.

São oito horas da noite e nada dele ligar. Você não vai apressá-lo, afinal de contas, homens também se atrasam. "Que saco! Ele está realmente atrasado". Mas beleza, você mora longe e ele, certamente, já estava no caminho. Só que não era verdade. E você ficou sentada, durinha pra não amassar o vestido e atenta para o celular, achando que, a qualquer momento, ele iria ligar. Mas ele não ligou, não mandou mensagem, não entrou no facebook, no twitter ou qualquer uma dessas bobagens. Ele não apareceu e você podia passar horas inventando desculpas e tentando entender o que não aconteceu. Mas não, foi furo admitir, mas você se deu conta de que tinha levado o primeiro VERDADEIRO FORA da sua vida. E não importava mais saber qual era o motivo, a desculpa ou o endereço do bar que ele estava com os amigos. Porque em encontros como este, não cabe o imprevisto. Ele já tinha perdido o encanto e voltado pro fim da lista.

É então que você percebe, com um olhar meio perdido, que não tem limites quando se trata dos tipos de homens que existem e que talvez aquilo fizesse parte do que já estava escrito. Porque já teve aquele que te disse na cara que era só curtição e também aquele que queria casar com você antes mesmo do primeiro beijo. Teve um outro que te colocou num pedestal e no outro dia estava com outra, fingindo que nem te conhecia e também aquele que disse estar apaixonado pelo teu sorriso, o teu cabelo e o teu sotaque divertido. E agora tem esse que chega calminho, que gosta de ouvir como foi o teu dia corrido mas que perde o primeiro encontro. E você nem colocava fé nesse lance. Só que um dia passa, mais rápido do que você imagina. É porque você se convence de que esse é o grande risco que todo mundo precisa correr quando tem um coração que pula, grita e se coça todo por dentro quando sabe que pode sentir. E você vai falar, se questionar, e continuar falando até que vai se encher daquilo e vai deixar pra lá, embora você nunca esqueça do seu primeiro verdadeiro "fora" da vida.

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19 de jul. de 2011

The space between

Eu nunca senti vontade de te fazer real, concreto e sentado ao meu lado. Na verdade, eu costumava me divertir com a distancia de três pés que existia entre a gente. Você, no topo de uma bancada qualquer do bar e eu, no salão, dançando. Eu gostava de te ver sorrindo enquanto eu virava um ou dois goles de vodka e, ao mesmo tempo, mexia nos cabelos e te olhava como você tivesse que ser meu. Embora eu não quisesse te beijar, de fato, só pra não estragar a idéia fantasiada de ter alguém pra levantar a sobrancelha devagar e jogar o corpo pro lado, numa mistura de sensualidade e esnobação. Até que você se agachou por um minuto e eu ouvi todas as minhas fichas caírem pelo chão.

Eu nunca tinha usado mais do que cinco minutos do meu dia, pensando numa maneira de te fazer sorrir com a boca fechada e com um olhar meio sem vergonha enquanto eu movia os lábios ao tocar a minha música preferida. Porque era natural, saudável e não tinha a obrigação de acontecer. Eu gostava de te ver olhando de um lado pro outro, fazendo aquela carinha de quem também tá ligado e mexendo o corpo todo só pra acompanhar a batida que rolava na noite. E eu só sabia o seu nome. Até que ela parou na sua frente e, mais uma vez, você se distraiu e abriu um sorriso maior ainda. E eu me transformei em pó, esvoaçado, pedindo por um pouco mais.

Eu não sentia essa paixão toda por você, como eu já demonstrei ou como grito aos quatro ventos de uma rua sem saída. Mas quando eu vi que alguém já possuía o seu sorriso, o seu jeito desconcertado e todas as suas tatuagens, me deu vontade de alongar as pernas só pra diminuir essa distância que, de repente, se multiplicou. E, a partir dai, eu passei a usar todos os minutos do meu dia só pra encontrar uma maneira de te perguntar quem era ela, de onde ela tinha vindo ou se você a amava. Mas eu não precisei tanto. Quando um cara se aproximou dela, você fez aquela cara apertada, de quem tá com raiva e andou em passos apressados só pra buscar explicação. Eu entendi tudo e devia ter indo embora. Mas eu não fui. Eu olhei meio de lado e você voltou de mansinho só pra ter certeza de que ela estava bem e que não deixaria acontecer de novo. Ela te deu um abraço apertado e te olhou de pertinho. E eu tive vontade de fazer exatamente o mesmo. Eu me senti pequena, engraçada e quase constrangida por ter até encontrado uma música pra gente.

Eu não sei dizer de onde nasceu esse desespero por não te ver e nem como aconteceu de eu voltar só pra ter certeza de que você realmente sentiu saudades. Mas eu não tive a sua certeza. E eu ainda insisto na mesma música, na mesma fantasia e nas várias sextas-feira só pra chutar o plano de te esquecer e apostar em mais uma noitada que, quase sempre, acaba numa cama gelada. E eu me sinto sozinha e cansada de olhares vazios e manchados pela maquiagem. Mais uma vez, te esquecer fica pra depois.

Eu não tenho certeza de quanto tempo tudo isso vai durar, mas eu desconfio que já esteja quase no fim. É porque dessa vez eu tenho certeza de que eu não perdi nada e que a gente não vai acontecer. Talvez porque, como todo mundo, eu também precise de um desses amores loucos, espontâneos e excitados que completa a gente por uma noite só. Eu só preciso acreditar e me convencer a não pensar em você, em geladeiras ou em churrascos, em dias de sol, no quintal. Ou, parar de tentar adivinhar o que você vai sentir ou o que vai dizer quando souber que, mais uma vez, eu estarei indo embora, sendo já tarde demais.
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27 de jun. de 2011

Feliz acaso

Porque, às vezes, me dá vontade de ser sozinha e de viver sozinha. Perdida, secreta e segura num lugar onde ninguém me conheça, me critique ou me analise tanto só pra tentar me entender. É que eu tenho pensamentos abusivos, exagerados, e, muitos deles, medíocres. E meus. Talvez eu precise mesmo passar mais um tempo fora só pra me livrar de julgações, expectativas ou comparações.

Aliás, não suporto a idéia de ser comparada. A ninguém. Até mesmo se me trouxer benefícios em forma de elogios passageiros. É que eu sou assim. Egoísta, auto-suficiente e todas essas baboseiras que o povo fala quando quer ser livre, desprendido e deixado em paz. Eu sou perigosa, infantil, tola e paciente, por um tempinho, só pra te esperar sorrir. É que eu sou bem prática, mesmo não conseguindo fazer mala pequena para uma viagem de dois dias.

É que eu tenho uma agressividade escondida, mas não sou calculista como muitos pensam ou como a astrologia me define. Prefiro dizer que sou uma mistura calma e repentina de tudo isso. A verdade, é que ninguém pode classificar uma pessoa de insensível só porque ela não curte declarações públicas de afeto ou homens que baixam até as calças só pra fazê-la sorrir. Afinal, o engraçado mora do lado da cutucada improvisada, da mordidinha no queixo e do abraço um pouco mais apertado. É que eu sou romântica, mesmo não fazendo questão de ligar todos os dias ou de prendê-lo, junto comigo, pelo final de semana inteiro.

É, talvez, eu mereça mesmo um tempo, constantemente, me bem dado só para que eu fique só. Parada, complicada e abandonada. Diferente dos outros, eu preciso me sentir só e também rejeitada, incompreendida e revoltada. Só assim pra eu sentir vontade de olhar pra trás e perceber o que deu errado. É porque nem tudo em que a gente acredita, existe. E quase nada do que a gente defende com caras, unhas e telefones desligados na cara, tá certo de fato. É que os nossos olhos só são capazes de ir até onde a nossa imaginação vai. Na verdade, eles param um pouco antes, no meio do caminho e é por isso que muitos dos carões inchados são quase invisíveis pra quem tá do lado de fora.

Viajar leva tempo, dinheiro e coragem. Ficar sozinho te leva às paredes do seu quarto imaginário, numa casa sem jardim e sem porta de fundo. É que eu gosto de fugir, de me liberar e da falsa sensação de que ninguém vai me notar. Só que ninguém vive assim. De rua em rua, de quarto em quarto ou em diversos terminais. É que dá medo quando as pessoas se aproximam e começam a notar que aquela pele lisinha, na verdade, carrega rugas e expressões de intensidade. E aquele sorriso bondoso e generoso, uma hora acaba e vai embora, como quem não quer nada. É porque ninguém quer ser descorberto pelo lado fraco e ser analisado é a pior parte.

É que me dá preguiça de esperar que aceitem meus olhos cansados, em dias de muito trabalho ou o meu jeito bravo quando eu perco o último capítulo de um seriado. É que a intimidade é constrangedora, invasiva e cheia de possibilidades. E ela precisa de um espaço largo, conveniente e é quase perfeccionista quando acha que estão dificultando a entrada. É que eu sou assim. Discreta, de olhares e de vontades apressadas. E, quase sempre, eu ando na contramão, mudo de direção e chego antes ou depois do tempo estipulado. É assim que eu faço e é assim que eu me acho.

Talvez, eu precise mesmo morar sozinha para que, então, eu me canse dos cubos de chocolate, dos episódios baixados ou das minhas palavras soltas pela casa. E, assim, quando eu não mais aguentar ser chata sozinha, eu volte para o meu quarto de fotos penduradas, pronta para colar pedaços e costurar falsos rasgos. É que eu preciso de um tempo para que eu sinta vontade de te dar meu número e te ver ligar, apaixonado, como num feliz acaso.

"Some women need to run free, until they find someone just as wild to run with."
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15 de jun. de 2011

Eu me liberto, eu bebo planos e, por agora, eu digo não.

Demorou um pouco mas agora eu sei. Não faz muito tempo que eu mudei de idéia, mas eu não me importo em não fazer trabalho em grupo porque, por agora, eu acredito que duas ou mais idéias juntas não vai dar a lugar algum. Todos os dias, eu fico feliz quando posso dirigir sozinha só pra poder cantar bem alto, sem que alguém me implore para calar a boca, por não aguentar o meu tom desafinado. Mais do que nunca, eu faço questão de dormir bem no meio da cama em tamanho queen size, pra ter a sensação de que ninguém pode me impedir de afastar um pouco mais.

Eu olho do outro lado da rua e vejo pessoas apaixonadas. Aonde quer que eu vá, existem casais abraçados e incrivelmente felizes como se não houvessem contas para pagar. E eu não consigo fazer o mesmo. É quase como um insulto para a minha idéia de liberdade e me dá logo vontade de abrir os braços, só pra ter certeza que ninguém tá me roubando espaço.

Eu vejo pessoas se encantando por outras e eu não sinto mudança nenhuma porque, enquanto ela deseja um final de semana a sós com ele, eu penso na minha viagem de 30 dias por Nova Iorque. Enquanto ele pensa no melhor presente que vai dar a ela e no que vão fazer no dia dos namorados, eu bebo duas ou mais taças de vinho e fico feliz por ter tempo de ficar em casa e escrever sentimentos mal contados.

Eu encontro gente sorrindo, suspirando e confortáveis em ligações românticas. E eu, fico contente por saber que ainda tenho créditos pra confirmar a hora com o meu entrevistado. Eu vejo casais reservando mesas para um jantar a dois e eu me sinto bem com a praticidade do delivery, por não precisar descer do carro. É esquisito e eu me irrito com essa mania chata de não dar continuidade.

As pessoas estão se apaixonando e eu pareço não me importar se ele não pedir meu número antes de ir embora. Enquanto ela pensa no vestido branco e na casa mobiliada, eu fico arquitetando planos livres pra quando eu sair da faculdade. Enquanto ele procura as alianças que mais combinam com os dois e em como vai ser o pedido de casamento, eu perco a hora pesquisando pré-requisitos para bolsas de pós-graduação, no exterior.

As pessoas começam a mudar e eu pareço não me importar em ficar parada no mesmo lugar, com as mesmas previsões e com as mesmas paixões desprendidas, avulsas e solitárias. Quando eu conheço alguém, eu escrevo cenas românticas e até fecho os olhos só pra simular um desses amores loucos, bandidos e inspiradores. Mas não dura muito tempo e eu até posso sentir o alívio de não ter que abrir os olhos e saber que era a realidade. Tudo isso, pra não atrapalhar meus planos imensos de abraçar o mundo, com dois braços que mal alcançam as prateleiras do meu próprio quarto. Ou, talvez, por ter meu coração completamente ocupado e não disposto a permitir mais entradas.

Eu fujo, sem perceber, de pessoas sensíveis, bacanas e que parecem querer algo mais que uma simples noitada. Talvez, porque eu não tenha paciência de esperar até que ele aceite os meus dias mal humorados, as minhas vontades exageradas ou as minhas reclamações constantes pela cidade. E eu acabo perdendo meu tempo com aqueles que não se dão nem o trabalho de me fazer repetir o nome. E é assim que as coisas são e é assim que eu faço. As pessoas mudam, se apaixonam e eu continuo sem novidades, não me importando em trocar passos errados. Eu não me prendo, não olho pra trás e não tenho nada que me faça querer voltar. E eu me liberto, eu bebo planos e, por agora, eu digo não, só pra convencer meu coração de que, talvez, aqui não seja mais o meu lugar.

"Everybody's changing and I don't feel the same".

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28 de abr. de 2011

A minha promessa. O meu pecado. O ponto final.

Eu não sei dizer quando exatamente alguém deixa de querer as coisas por ela ou para ela mesma. No meio da aula, parada no trânsito e até sentada numa sala de reuniões, para discutir a próxima pauta, eu consigo te fazer prioridade e lembrar de você. Lembrar dos teus braços cruzados, da tua pele em cor bronzeada e do seu jeito distraído, ao lançar um sorriso acanhado. E eu logo penso no dia que eu vou te encontrar, no momento que você me olhar e o que pode ou não ser dito. Tudo fica agitado, iluminado e configurado como se fosse o bastante pra tudo. Pra mim.

Quantas vezes alguém mesmo precisa ver para entender os olhares vazios e o sorriso contido de quem diz "não" o tempo todo? Quantas vontades e respirações difíceis serão necessárias para que alguém entenda que não existe um ponto de encontro entre duas ruas paralelas? Porque será mesmo tão difícil aceitar que ele, talvez, não goste de vinho enquanto você espera por um jantar a sós? Quantos sinais óbvios serão necessários para que alguém entenda que não será ele quem te fará uma massagem nas costas ou que irá trocar o óleo do seu carro, quando for preciso?

Dia apertado. Horas corridas. Coração vazio. Corpo sem dono. E perca de tempo, pensando num plano pra te chamar de meu. Ou, num plano pra te deixar ir. Parece que tudo desaparece e não dura o suficiente para acompanhar essas várias tentativas arranjadas de te esquecer. Tentativas erradas, fracassadas e que possuem efeitos contrários e medonhos. É uma vontade de ter, de tocar e de sentir que parece não ter permissão para acabar ou simplesmente morrer. É uma lembrança segura, bruta e que permanece por entrelinhas de músicas românticas ou em fotos reviradas pelo quarto.

É uma vontade que nasceu, mas que não aconteceu. É um sentimento que existe mas que não foi vivido. É quase como um amor ofendido, que vai contra as regras e parece não ter conquistado a nota máxima pra te fazer sorrir de volta. E fica assim, como tá. Você de um lado, sorrindo em pontos "X's" e essa vontade, perdida pelos cantos, esperando por um jeito de ser levada para a tua área de cobertura, como se o amor fosse paciente, tranquilo e sem pressa de chegar e viver. Mas você não deve saber disso.

E quando alguém percebe mesmo que um "não" quer dizer muita coisa? E quantas milhas voadas serão necessárias para que alguém entenda que certas coisas não mudam? Como fazer alguém aceitar que ele não será aquele que te dará um beijo na cabeça, de leve, te pedindo pra ter cuidado e voltar pra casa logo?

Você diz que sente saudade mas nada será dito. E nada irá mudar. É porque você não vai me ensinar as regras do futebol americano, não vai me levar pra te ver jogar, não vai brincar com palavras difíceis para que eu não entenda e nem vai me pegar pelo braço e dizer, na sala de um dos seus amigos: vem, senta aqui! Você pergunta por mim, mas não vai me pedir pra não ir embora, nem vai me colocar no banco da frente do seu carro e me levar pra casa se eu beber demais. Porque é assim que você faz. Quando meu coração sorri por dentro e se ilude, você me deixa de lado e finge estar bravo com alguma outra coisa, só pra fazer aquela cara de sério e que não tem tempo para bobagens. Porque é assim que você é. E vai me fazer olhar no espelho pra tentar descobrir qual era o problema com a minha roupa ou se fiz ou falei algo desnecessário. Só pra me fazer encontrar uma desculpa e justificar o teu jeito errado, que não foi de encontro ao meu.

Só mais essa vez. E essa é a minha promessa, a minha dívida e o meu pecado. E é, também, o meu consolo para acreditar que tudo ficará calmo e tranquilo como deveria ser. A última vez. E esse é o meu ponto final e o dia de se desfazer de fotos salvas, camisas guardadas e de vontades aperriadas. É o dia de te dizer adeus e até nunca mais.
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23 de abr. de 2011

Miss-understood?!

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: as pessoas não me entendem*. Elas não percebem quando eu preciso estar só, deitada, sentada, em pé mas calada. De preferência trancada no meu quarto. É que, às vezes, eu não tenho nada a falar e meus ouvidos parecem ocupados demais para escutar. E, então, eu simplesmente fujo de todas as perguntas, vírgulas e espaços em branco que uma conversa, numa roda pequena, consegue ter. Só pra não chegar a minha vez de falar, a minha vez de sorrir ou a minha vez de concordar.

Eu não sei dizer, ao certo, quantas vezes eu já fui mal compreendida. O pior é que só me resta aguentar os olhares trocados entre os corredores. Ou o que mais cabe a mim dizer ou fazer? "Não, não foi isso que eu quis dizer"; "Não to com raiva de você, mas com a situação"; "É que eu to lendo meu livro"; "É que eu não quero ir"; "Eu sei que não é culpa sua, é que eu queria tanto"; "É que eu sinto falta"; "Eu não disse isso"; "Você me entendeu errado"; "Não é você, é que estou com raiva". Nada deu certo, alguma outra sugestão?

Todo dia, quando acordo, eu olho pro espelho e decido que eu não preciso ser eu mesma, todas as horas do meu dia. Eu tento acreditar que posso sorrir quando estou com raiva, ter paciência quando dizem o que eu não quero ouvir e, acima de tudo, mostrar que sou feliz quando eu sei que está faltando algo. Eu tento fazer tudo isso porque eu percebi que ser mal compreendida significa, quase sempre, desvalorizar alguém ou atirar pedra nelas. Ninguém entende que eu só preciso de um minutinho de silêncio pra deixar a alma respirar.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Eu preciso de tempo, espaço e liberdade*. É que eu nasci um pouco mais independente do que, de fato, me é permitido e a consequência disso bate na minha porta até hoje. As pessoas ainda não se acostumaram e agem como se fossem vítimas do meu grito intuitivo que diz, sempre que pode, "me deixa em paz, por um pouco, que eu preciso sentir raiva primeiro pra que depois ela venha a passar". O problema é que as pessoas só entendem o grito e, por isso, me dão as costas e vão embora. E eu fico esperando pra que elas voltem sem que eu precise explicar o porquê de ter feito ou dito isso ou aquilo. Elas não entendem que, às vezes, explicar a razão de estar com raiva pode incomodar mais do que sentí-la.

Ser mal compreendida é quase como ficar triste três vezes mais ou ter que ficar o dobro do tempo trancada no quarto. Algo começa a fazer sentido e agora eu acredito que pra gente poder ser mesmo a gente, é preciso esperar até a hora de dormir pra que ninguém seja ofendido, envolvido ou incomodado com a verdade que não pode escapar. O que ninguém entende é que eu não consigo esperar nem, muitos menos, disfarçar. É que quando nada do que eu quero dá certo, eu preciso remoer todos os detalhes, chorar pelo meu fracasso e ficar sozinha pra aceitar que nem tudo foi feito pra mim. Eu preciso de tempo suficiente pra criar coragem de voltar pro mundo e esquecer do que deixou de ser ou do que não pôde acontecer. Os dois minutos que eu dedico todos os dias, de frente ao espelho, são completamente desperdiçados. E eu vou contra todas as chances que eu tinha depositado na minha tentativa frustrada de mudar.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: eu sempre tive uma alma que parecia não ser minha*. E isso também me dá medo. Na maioria das vezes eu falo sem pensar, penso o que eu não devo e reservo tempo demais para o que eu sei que não vai acontecer. Eu gasto quase todos os meus créditos em sonhos que possuem a probabilidade mínima de vir a se realizar e, de alguma forma, eu gosto desse fio impossível que passa diante dos meus olhos. Eu tenho certeza que existe algo que respira dentro de mim e que não responde aos meus comandos. As pessoas não entendem mas eu também não. É que meu inconsciente consegue falar mais alto quando bem entende, sem que eu precise estimular como muitos dizem.

Eu, quase sempre, peço pelo direito de controlar as minhas reações avessas e compulsivas, mas acredito que esse seja um pedido difícil de ser concedido. E, nesse meio tempo, eu continuo gritando em cada esquina e sendo mal compreendida, só por querer um pouco mais de tempo do que a maioria das pessoas precisam quando estão com raiva, tristes ou famintas. É que nenhuma parte do meu corpo tem a habilidade de separar em cômodos o que eu devo sentir, a cada minuto do meu dia. Por isso, você não vai me ver sorrindo, nem dando "Bom dia", nem muito menos disposta a entender o que estão tentando dizer por entrelinhas.

Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Os meus pensamentos me levam longe demais para que eu aceite as paredes do meu quarto ou as rodovias que não me levam pra onde eu quero ir*. Isso assusta alguns, mas assusta também a mim. Porque, quase sempre, eu tenho medo do que estar por vir ou de como eu vou reagir. Mas as pessoas não me entendem e agem como se eu quisesse descontar todo o meu gênio contrariado, bem em cima delas. Quando tudo o que eu preciso é ficar sozinha, na minha condição de tentar descobrir qual outro caminho pode estar sorrindo pra mim. E qual outro caminho eu ainda posso seguir.

*Mencionando:
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2010/11/passos-largos.html
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2009/10/um-ir-e-vir.html
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