28 de nov. de 2011
Que seja então
15 de set. de 2011
"O que tiver de ser, será" e mais um pouco
Eu não sei você, mas eu me pertubo com o jeito meio paciente e compassivo que a vida, às vezes, leva pra fazer a gente topar no buraco certo. E eu tenho uma vontade urgente e chata que não me deixa olhar pro lado e esperar até que chegue o mapa do caminho que devo seguir. Por agora, eu exigo um pouco mais de certeza, um pouco mais de alicerce. Porque uma grande construção não é admirada sem sair do papel. É preciso que haja mais do que linhas desenhadas e cálculos feitos no canto da folha de tamanho de 1 metro quadrado. E assim são os meus planos. Não faz sentido guardar a hora de entrar na batalha para o dia seguinte. É que não me dá conforto esperar pelo dia da minha sorte ou pelo dia que alguém vai olhar pra mim e dizer: vou apostar em você! Até mesmo porque a probabilidade disso acontecer é bem pequena. E eu não tenho medo de correr atrás, embora baste um sorriso mal humorado e torto pra me desmotivar e me fazer ficar trancada no quarto, só pra ficar bem longe de todas as críticas. Não sabendo que este é o primeiro passo para tirar o meu projeto da folha de rascunho.
Audácia. Talvez seja isso mesmo o que eu queira pra mim agora. Audácia de ir, de vir, de tentar, de fracassar, de agir. Porque eu não vejo mais graça em ir da faculdade ao estágio ou das poucas arriscadas à academia. Eu quero mais. Mais daquilo do que tá por vir, por mais que nem venha, no fim das contas. É que eu não quero mais teorias nem "achismos" que podem ser enfiados no bolso. Eu quero mais realidade e aquilo que me provoca medo, insegurança e até um pouquinho de dor. Eu quero sentir o NÃO, se for assim que tem que ser. Mas eu preciso saber que eu estava lá. E, depois, já passou, já virou poeira. Porque o que ontem eu não fui, é o que hoje eu sou, e minhas vontades se multiplicam e se espalham pelos quilômetros a frente dos meus passos meio tímidos e atrapalhados.
Eu cansei de sentir vontade de tudo e, ao mesmo tempo, de nada. E também cansei de tentar criar trabalho desnecessário só pra me distrair ou ainda de tentar encontrar mil e uma maneiras de chegar até onde eu quero ir. Quando só me basta uma delas. É cruel e até desumano como a vida, às vezes, cobra da gente o que nem mesmo existe ainda. Mas é preciso. E tem vezes que ou a gente segura firme aquilo que quer e corre atrás ou é melhor deixar pra lá, deixar correr junto com o vento. Porque apostar em metades, não dá. E eu estou disposta a me jogar inteira porque eu cansei de me poupar. O que tiver de ser, será. É, eu já entendi. Mas, por agora, eu quero mais.
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5 de set. de 2011
O primeiro a gente nunca esquece
Tá, do primeiro beijo a gente nunca esquece. A gente também não esquece da primeira bicicleta, da primeira viagem pra longe, do primeiro celular ou do primeiro carro. Assim como também não esquece do primeiro "fora". E eu não falo daquele "fora" meio torto quando você solta um olhar discreto pro colega da escola quando ele, na verdade, tá trocando figurinhas com a menina que senta bem atrás de você. Também não falo daquele cara que você jurou tá te olhando a noite toda mas que chamou a primeira saia curta, que apareceu, pra dançar. Eu estou falando do verdadeiro "fora". Daqueles que te fazem ficar sentada na cama, se perguntando o que aconteceu ou o que você falou de errado, imaginando cem diferentes possibilidades que fazem fila pra virar verdade e fazer um pouco de sentido no meio daquilo tudo.
E ele é tímido mas parece se soltar com você e a conversa flui de um jeito incrivel, como se vocês já soubessem o que falar. Parece se escorregar na leveza que um cutuca o outro. Só que chega uma hora que dá vontade de se ver, de se tocar e de se olhar de verdade. Então, vocês marcam um encontro daqueles quetinhos, suaves e quase desconcertados por já saberem do que se trata. E surge aquele friosinho bom de sentir na barriga e aquela sensação de que algo a mais pode ser dito e sentido. E você fica nervosa de uma maneira esquisita. Talvez porque você nem estava tão afim dele, mas porque existia um pouco mais de intimidade pra um primeiro encontro e ela pode ser constrangedora e transparente demais. Mas tudo bem, você pensa, ele é legal.
São oito horas da noite e nada dele ligar. Você não vai apressá-lo, afinal de contas, homens também se atrasam. "Que saco! Ele está realmente atrasado". Mas beleza, você mora longe e ele, certamente, já estava no caminho. Só que não era verdade. E você ficou sentada, durinha pra não amassar o vestido e atenta para o celular, achando que, a qualquer momento, ele iria ligar. Mas ele não ligou, não mandou mensagem, não entrou no facebook, no twitter ou qualquer uma dessas bobagens. Ele não apareceu e você podia passar horas inventando desculpas e tentando entender o que não aconteceu. Mas não, foi furo admitir, mas você se deu conta de que tinha levado o primeiro VERDADEIRO FORA da sua vida. E não importava mais saber qual era o motivo, a desculpa ou o endereço do bar que ele estava com os amigos. Porque em encontros como este, não cabe o imprevisto. Ele já tinha perdido o encanto e voltado pro fim da lista.
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19 de jul. de 2011
The space between
27 de jun. de 2011
Feliz acaso
Aliás, não suporto a idéia de ser comparada. A ninguém. Até mesmo se me trouxer benefícios em forma de elogios passageiros. É que eu sou assim. Egoísta, auto-suficiente e todas essas baboseiras que o povo fala quando quer ser livre, desprendido e deixado em paz. Eu sou perigosa, infantil, tola e paciente, por um tempinho, só pra te esperar sorrir. É que eu sou bem prática, mesmo não conseguindo fazer mala pequena para uma viagem de dois dias.
É que eu tenho uma agressividade escondida, mas não sou calculista como muitos pensam ou como a astrologia me define. Prefiro dizer que sou uma mistura calma e repentina de tudo isso. A verdade, é que ninguém pode classificar uma pessoa de insensível só porque ela não curte declarações públicas de afeto ou homens que baixam até as calças só pra fazê-la sorrir. Afinal, o engraçado mora do lado da cutucada improvisada, da mordidinha no queixo e do abraço um pouco mais apertado. É que eu sou romântica, mesmo não fazendo questão de ligar todos os dias ou de prendê-lo, junto comigo, pelo final de semana inteiro.
É, talvez, eu mereça mesmo um tempo, constantemente, me bem dado só para que eu fique só. Parada, complicada e abandonada. Diferente dos outros, eu preciso me sentir só e também rejeitada, incompreendida e revoltada. Só assim pra eu sentir vontade de olhar pra trás e perceber o que deu errado. É porque nem tudo em que a gente acredita, existe. E quase nada do que a gente defende com caras, unhas e telefones desligados na cara, tá certo de fato. É que os nossos olhos só são capazes de ir até onde a nossa imaginação vai. Na verdade, eles param um pouco antes, no meio do caminho e é por isso que muitos dos carões inchados são quase invisíveis pra quem tá do lado de fora.
Viajar leva tempo, dinheiro e coragem. Ficar sozinho te leva às paredes do seu quarto imaginário, numa casa sem jardim e sem porta de fundo. É que eu gosto de fugir, de me liberar e da falsa sensação de que ninguém vai me notar. Só que ninguém vive assim. De rua em rua, de quarto em quarto ou em diversos terminais. É que dá medo quando as pessoas se aproximam e começam a notar que aquela pele lisinha, na verdade, carrega rugas e expressões de intensidade. E aquele sorriso bondoso e generoso, uma hora acaba e vai embora, como quem não quer nada. É porque ninguém quer ser descorberto pelo lado fraco e ser analisado é a pior parte.
É que me dá preguiça de esperar que aceitem meus olhos cansados, em dias de muito trabalho ou o meu jeito bravo quando eu perco o último capítulo de um seriado. É que a intimidade é constrangedora, invasiva e cheia de possibilidades. E ela precisa de um espaço largo, conveniente e é quase perfeccionista quando acha que estão dificultando a entrada. É que eu sou assim. Discreta, de olhares e de vontades apressadas. E, quase sempre, eu ando na contramão, mudo de direção e chego antes ou depois do tempo estipulado. É assim que eu faço e é assim que eu me acho.
Talvez, eu precise mesmo morar sozinha para que, então, eu me canse dos cubos de chocolate, dos episódios baixados ou das minhas palavras soltas pela casa. E, assim, quando eu não mais aguentar ser chata sozinha, eu volte para o meu quarto de fotos penduradas, pronta para colar pedaços e costurar falsos rasgos. É que eu preciso de um tempo para que eu sinta vontade de te dar meu número e te ver ligar, apaixonado, como num feliz acaso.
"Some women need to run free, until they find someone just as wild to run with."
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15 de jun. de 2011
Eu me liberto, eu bebo planos e, por agora, eu digo não.
Eu olho do outro lado da rua e vejo pessoas apaixonadas. Aonde quer que eu vá, existem casais abraçados e incrivelmente felizes como se não houvessem contas para pagar. E eu não consigo fazer o mesmo. É quase como um insulto para a minha idéia de liberdade e me dá logo vontade de abrir os braços, só pra ter certeza que ninguém tá me roubando espaço.
Eu vejo pessoas se encantando por outras e eu não sinto mudança nenhuma porque, enquanto ela deseja um final de semana a sós com ele, eu penso na minha viagem de 30 dias por Nova Iorque. Enquanto ele pensa no melhor presente que vai dar a ela e no que vão fazer no dia dos namorados, eu bebo duas ou mais taças de vinho e fico feliz por ter tempo de ficar em casa e escrever sentimentos mal contados.
Eu encontro gente sorrindo, suspirando e confortáveis em ligações românticas. E eu, fico contente por saber que ainda tenho créditos pra confirmar a hora com o meu entrevistado. Eu vejo casais reservando mesas para um jantar a dois e eu me sinto bem com a praticidade do delivery, por não precisar descer do carro. É esquisito e eu me irrito com essa mania chata de não dar continuidade.
As pessoas estão se apaixonando e eu pareço não me importar se ele não pedir meu número antes de ir embora. Enquanto ela pensa no vestido branco e na casa mobiliada, eu fico arquitetando planos livres pra quando eu sair da faculdade. Enquanto ele procura as alianças que mais combinam com os dois e em como vai ser o pedido de casamento, eu perco a hora pesquisando pré-requisitos para bolsas de pós-graduação, no exterior.
As pessoas começam a mudar e eu pareço não me importar em ficar parada no mesmo lugar, com as mesmas previsões e com as mesmas paixões desprendidas, avulsas e solitárias. Quando eu conheço alguém, eu escrevo cenas românticas e até fecho os olhos só pra simular um desses amores loucos, bandidos e inspiradores. Mas não dura muito tempo e eu até posso sentir o alívio de não ter que abrir os olhos e saber que era a realidade. Tudo isso, pra não atrapalhar meus planos imensos de abraçar o mundo, com dois braços que mal alcançam as prateleiras do meu próprio quarto. Ou, talvez, por ter meu coração completamente ocupado e não disposto a permitir mais entradas.
Eu fujo, sem perceber, de pessoas sensíveis, bacanas e que parecem querer algo mais que uma simples noitada. Talvez, porque eu não tenha paciência de esperar até que ele aceite os meus dias mal humorados, as minhas vontades exageradas ou as minhas reclamações constantes pela cidade. E eu acabo perdendo meu tempo com aqueles que não se dão nem o trabalho de me fazer repetir o nome. E é assim que as coisas são e é assim que eu faço. As pessoas mudam, se apaixonam e eu continuo sem novidades, não me importando em trocar passos errados. Eu não me prendo, não olho pra trás e não tenho nada que me faça querer voltar. E eu me liberto, eu bebo planos e, por agora, eu digo não, só pra convencer meu coração de que, talvez, aqui não seja mais o meu lugar.
"Everybody's changing and I don't feel the same".
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28 de abr. de 2011
A minha promessa. O meu pecado. O ponto final.
Quantas vezes alguém mesmo precisa ver para entender os olhares vazios e o sorriso contido de quem diz "não" o tempo todo? Quantas vontades e respirações difíceis serão necessárias para que alguém entenda que não existe um ponto de encontro entre duas ruas paralelas? Porque será mesmo tão difícil aceitar que ele, talvez, não goste de vinho enquanto você espera por um jantar a sós? Quantos sinais óbvios serão necessários para que alguém entenda que não será ele quem te fará uma massagem nas costas ou que irá trocar o óleo do seu carro, quando for preciso?
Dia apertado. Horas corridas. Coração vazio. Corpo sem dono. E perca de tempo, pensando num plano pra te chamar de meu. Ou, num plano pra te deixar ir. Parece que tudo desaparece e não dura o suficiente para acompanhar essas várias tentativas arranjadas de te esquecer. Tentativas erradas, fracassadas e que possuem efeitos contrários e medonhos. É uma vontade de ter, de tocar e de sentir que parece não ter permissão para acabar ou simplesmente morrer. É uma lembrança segura, bruta e que permanece por entrelinhas de músicas românticas ou em fotos reviradas pelo quarto.
É uma vontade que nasceu, mas que não aconteceu. É um sentimento que existe mas que não foi vivido. É quase como um amor ofendido, que vai contra as regras e parece não ter conquistado a nota máxima pra te fazer sorrir de volta. E fica assim, como tá. Você de um lado, sorrindo em pontos "X's" e essa vontade, perdida pelos cantos, esperando por um jeito de ser levada para a tua área de cobertura, como se o amor fosse paciente, tranquilo e sem pressa de chegar e viver. Mas você não deve saber disso.
E quando alguém percebe mesmo que um "não" quer dizer muita coisa? E quantas milhas voadas serão necessárias para que alguém entenda que certas coisas não mudam? Como fazer alguém aceitar que ele não será aquele que te dará um beijo na cabeça, de leve, te pedindo pra ter cuidado e voltar pra casa logo?
Você diz que sente saudade mas nada será dito. E nada irá mudar. É porque você não vai me ensinar as regras do futebol americano, não vai me levar pra te ver jogar, não vai brincar com palavras difíceis para que eu não entenda e nem vai me pegar pelo braço e dizer, na sala de um dos seus amigos: vem, senta aqui! Você pergunta por mim, mas não vai me pedir pra não ir embora, nem vai me colocar no banco da frente do seu carro e me levar pra casa se eu beber demais. Porque é assim que você faz. Quando meu coração sorri por dentro e se ilude, você me deixa de lado e finge estar bravo com alguma outra coisa, só pra fazer aquela cara de sério e que não tem tempo para bobagens. Porque é assim que você é. E vai me fazer olhar no espelho pra tentar descobrir qual era o problema com a minha roupa ou se fiz ou falei algo desnecessário. Só pra me fazer encontrar uma desculpa e justificar o teu jeito errado, que não foi de encontro ao meu.
Só mais essa vez. E essa é a minha promessa, a minha dívida e o meu pecado. E é, também, o meu consolo para acreditar que tudo ficará calmo e tranquilo como deveria ser. A última vez. E esse é o meu ponto final e o dia de se desfazer de fotos salvas, camisas guardadas e de vontades aperriadas. É o dia de te dizer adeus e até nunca mais.
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23 de abr. de 2011
Miss-understood?!
Eu não sei dizer, ao certo, quantas vezes eu já fui mal compreendida. O pior é que só me resta aguentar os olhares trocados entre os corredores. Ou o que mais cabe a mim dizer ou fazer? "Não, não foi isso que eu quis dizer"; "Não to com raiva de você, mas com a situação"; "É que eu to lendo meu livro"; "É que eu não quero ir"; "Eu sei que não é culpa sua, é que eu queria tanto"; "É que eu sinto falta"; "Eu não disse isso"; "Você me entendeu errado"; "Não é você, é que estou com raiva". Nada deu certo, alguma outra sugestão?
Todo dia, quando acordo, eu olho pro espelho e decido que eu não preciso ser eu mesma, todas as horas do meu dia. Eu tento acreditar que posso sorrir quando estou com raiva, ter paciência quando dizem o que eu não quero ouvir e, acima de tudo, mostrar que sou feliz quando eu sei que está faltando algo. Eu tento fazer tudo isso porque eu percebi que ser mal compreendida significa, quase sempre, desvalorizar alguém ou atirar pedra nelas. Ninguém entende que eu só preciso de um minutinho de silêncio pra deixar a alma respirar.
Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Eu preciso de tempo, espaço e liberdade*. É que eu nasci um pouco mais independente do que, de fato, me é permitido e a consequência disso bate na minha porta até hoje. As pessoas ainda não se acostumaram e agem como se fossem vítimas do meu grito intuitivo que diz, sempre que pode, "me deixa em paz, por um pouco, que eu preciso sentir raiva primeiro pra que depois ela venha a passar". O problema é que as pessoas só entendem o grito e, por isso, me dão as costas e vão embora. E eu fico esperando pra que elas voltem sem que eu precise explicar o porquê de ter feito ou dito isso ou aquilo. Elas não entendem que, às vezes, explicar a razão de estar com raiva pode incomodar mais do que sentí-la.
Ser mal compreendida é quase como ficar triste três vezes mais ou ter que ficar o dobro do tempo trancada no quarto. Algo começa a fazer sentido e agora eu acredito que pra gente poder ser mesmo a gente, é preciso esperar até a hora de dormir pra que ninguém seja ofendido, envolvido ou incomodado com a verdade que não pode escapar. O que ninguém entende é que eu não consigo esperar nem, muitos menos, disfarçar. É que quando nada do que eu quero dá certo, eu preciso remoer todos os detalhes, chorar pelo meu fracasso e ficar sozinha pra aceitar que nem tudo foi feito pra mim. Eu preciso de tempo suficiente pra criar coragem de voltar pro mundo e esquecer do que deixou de ser ou do que não pôde acontecer. Os dois minutos que eu dedico todos os dias, de frente ao espelho, são completamente desperdiçados. E eu vou contra todas as chances que eu tinha depositado na minha tentativa frustrada de mudar.
Eu já disse uma vez, mas vou repetir: eu sempre tive uma alma que parecia não ser minha*. E isso também me dá medo. Na maioria das vezes eu falo sem pensar, penso o que eu não devo e reservo tempo demais para o que eu sei que não vai acontecer. Eu gasto quase todos os meus créditos em sonhos que possuem a probabilidade mínima de vir a se realizar e, de alguma forma, eu gosto desse fio impossível que passa diante dos meus olhos. Eu tenho certeza que existe algo que respira dentro de mim e que não responde aos meus comandos. As pessoas não entendem mas eu também não. É que meu inconsciente consegue falar mais alto quando bem entende, sem que eu precise estimular como muitos dizem.
Eu, quase sempre, peço pelo direito de controlar as minhas reações avessas e compulsivas, mas acredito que esse seja um pedido difícil de ser concedido. E, nesse meio tempo, eu continuo gritando em cada esquina e sendo mal compreendida, só por querer um pouco mais de tempo do que a maioria das pessoas precisam quando estão com raiva, tristes ou famintas. É que nenhuma parte do meu corpo tem a habilidade de separar em cômodos o que eu devo sentir, a cada minuto do meu dia. Por isso, você não vai me ver sorrindo, nem dando "Bom dia", nem muito menos disposta a entender o que estão tentando dizer por entrelinhas.
Eu já disse uma vez, mas vou repetir: Os meus pensamentos me levam longe demais para que eu aceite as paredes do meu quarto ou as rodovias que não me levam pra onde eu quero ir*. Isso assusta alguns, mas assusta também a mim. Porque, quase sempre, eu tenho medo do que estar por vir ou de como eu vou reagir. Mas as pessoas não me entendem e agem como se eu quisesse descontar todo o meu gênio contrariado, bem em cima delas. Quando tudo o que eu preciso é ficar sozinha, na minha condição de tentar descobrir qual outro caminho pode estar sorrindo pra mim. E qual outro caminho eu ainda posso seguir.
*Mencionando:
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2010/11/passos-largos.html
http://pesnasnuvens.blogspot.com/2009/10/um-ir-e-vir.html
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16 de abr. de 2011
Até que a taça de vinho perca a graça
Já faz algum tempo que eu mudei. Tudo começou quando, de repente, eu troquei o jeito que eu mexia os cabelos e a forma de penteá-los. Depois, eu mudei a meneira de se vestir e, também, as coisas que eu escrevia e os livros que eu lia. Minha maquiagem estragou, meus vestidos curtos se esconderam e a luz do meu closet já não precisava estar acesa para que tudo pudesse fazer sentido. Com a lâmpada queimada, eu ainda podia escolher o que vestir pra sair só pela estreita claridade que vinha da veneziana do banheiro. O que vier, o que puder, o que couber. Não vem ninguém na contramão.
Já faz algum tempo, eu sei. Eu voltei, eu mudei. Uma taça de vinho na mão, uma porta fechada e um sussuro no pé do ouvido quase pedindo explicação. E quanto tempo mesmo leva pra alguém perceber que algo está errado? Será esse um jogo de advinhações ou apenas uma estrada escura que não oferece muitas direções? E quanto tempo exatamente leva pra que alguém descubra o caminho de volta? De volta para o que antes fazia, o que antes comia, o que antes sentia? Ou será esse, um caminho sem volta? O mundo gira como quem não quer esperar e as palavras ficam soltas e confusas como que num céu nublado. E quando alguém percebe que está tudo se tornando irreversível?
As ruas estão vazias, ou não. E eu ainda procuro a diferença. Mesas lotadas de um lado, gente dançando do outro e uma banda alegre que toca uma música que contagia mas que não me move um músculo sequer. Quando exatamente alguém percebe que pode voltar atrás? Será essa a escolha errada ou será ela, a escolha que não existe? Poderá esse mesmo alguém encontrar uma forma de se reiventar e voltar a pentear e mexer os cabelos de forma envolvente, bem de frente ao espelho? E voltar a usar vestidos marcados, atraentes e que parecem dizer algo mais que "vai e volta logo"? E poderá esse alguém ensaiar um novo andar, um novo olhar, sem precisar mudar a direção ou o código da ligação?
A noite está agitada para alguns e silenciosa para outros. A música inspira alguns e agride a outros. Os carros têm luzes fortes e velocidades alteradas. Parece que o pé não obedece ao controle das mãos e o destino certo parece nunca chegar. O ponto final parece exato, de todas as maneiras que um dia existiram e que agora mudaram. Quando exatamente alguém consegue olhar para o que tem em frente e sentir vontade de avançar? E quanto tempo mesmo demora para que isso aconteça se alguém estiver disposto a aceitar? As coisas acontecem mesmo por uma razão ou a razão é simplesmente o dia que esse alguém vai levantar e sacar que já esperou tempo demais? Quanto tempo leva para que o pulo entre duas pedras, o salto entre dois rios estreitos e o pensamento entre dois mundos seja completamente superado?
Já faz algum tempo, eu sei. Meu cabelo não é o mesmo, as cores do meu guarda roupa mudaram e meus pés parecem mais frágeis a um salto alto. Quanto tempo mesmo demora até que tudo isso volte a ser como era? Quantas noites quietas, calmas e contidas serão necessárias para que o olhar ansioso do agora tenha, também, a brisa ofegante do calor de antes?
A noite está apenas começando e eu não quero ir embora. Não, sem pelo menos, gastar as poucas notas que me restam ou o brilho escovado dos fios que se levam com o vento. É cedo ainda, minha maquiagem não está nem borrada, meu pé não tem calos e minha bolsa de mão ainda não me irritou por ser pequena ou grande demais. Ainda nem passou da meia noite e minha casa parece estar tão longe. Eu não quero ter pressa de chegar.
O lugar está lotado, a música parece se acertar e você parece tão seguro ao comprar esses dois drinks no bar. Quanto tempo exatamente leva pra que alguém perceba que assim que a vida deveria estar? Quanto tempo mesmo leva para que o sol volte a raiar? O dia vem e o dia vai. E quando esse tempo voltar, por favor, vem aqui me chamar.
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14 de mar. de 2011
Saudade
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Eu não consigo fazer assim, como você e eu me dei conta disso de imediato. Foi quando eu lembrei das fotos do colegial, dos bilhetinhos na hora da aula, da cola na prova final e daquele dia em que fui para o cinema, tarde da noite, com poucas e boas amigas e pensei que ficamos presas na sala. Eu não consigo esquecer daquela noite chuvosa quando eu voltei pra casa toda molhada, com o meu sapato novo estragado e meu cabelo completamente bagunçado. E demorou uns três dias para que ele voltasse ao normal.
Por favor, não me julgue mas é porque eu ainda não sei o que fazer do cartão postal de Nova Iorque, do dia de St. Patricks em Nova Jersey e, muito menos, das minhas amigas e da gente formando o quarteto “Troubles”. É que eu queria poder voltar para aquela noite na praia quando a gente resolveu tirar a roupa e se atirar no mar, depois de várias tentativas erradas de enganar o segurança do bar e entrar com uma identidade falsa. É que eu queria voltar só pra viver de novo aquela noite em que eu me apaixonei e jurei que ia dar certo, mesmo sabendo, hoje, que não deu. Naquela noite, eu pensei que iria e era o que importava.
A minha vontade é só de poder voltar no tempo, por um minutinho só. E eu não iria mudar nada. Tudo iria ser do jeitinho que foi, mesmo com os defeitos, as crises, os dramas, os vacilos e os caras desconhecidos. Tudo, de verdade. É que, às vezes, me dá aquela sensação aperreada e angustiada que quase me deita na cama e me faz dormir. É uma saudade que muda numa velocidade incrível. Uma hora ela é tranquila, bonita e saudável. Noutra, ela me atormenta, me sacode e me dá arrepios. É que eu tenho vontade de voltar à Nova Iorque e vagar pelas ruas de madrugada e, também, voltar àquela viagem maluca à Miami, onde a gente bebia escondida num copinho da starbucks.
Pode parecer exagero ou até mentira pra você, mas eu sinto uma angustiada saudade das noites na cidade vizinha, quando a gente tomava umas doses a mais de tequila e já estávamos amigas íntimas de todos os seguranças do bar. No outro dia, eu lembro bem, a gente se reunia na cozinha e começava com aquele papo sério de que fomos ridículas e que teríamos que parar com tudo aquilo. Na maioria das vezes, a decisão não durava nem um dia. Mas a gente ria e se divertia ao voltar pra casa, no carro, berrando os novos hits do verão “Dynamite” do Taio Cruz ou “Oh My Gosh” do Usher. Eram noites felizes.
Muitas vezes, já me ocorreu de estar sozinha sentada na pontinha da cama, remexendo nas caixas empoeiradas ou vasculhando as mil e umas pastas e arquivos do meu computador. É muito que eu encontro. São os cartões de natal, os palitinhos de picolé não sorteados e até mesmo aqueles cordões velhos de carnaval. São as fotos no avião, dos primeiros amigos no exterior e da primeira visita à Estátua da Liberdade. Quando menos se espera, a saudade vem e pega e agarra, sem rodeios, sem mais nem menos. É porque a saudade não tem hora marcada, nem grau de intensidade. Ela vem e encontra a gente distraída. É uma das poucas coisas na vida que a gente quando procura, acha e quando não procura, também acha. É meio como um ciclo vicioso e medonho. Ninguém escapa e é por isso que eu não acredito em você.
Eu já ouvi muitos sermões e até já pensei e escrevi a respeito. É um tal de “passado é passado. Vai parar a sua vida pra ficar pensando no que não volta mais? Tá desperdiçando o seu presente” e blá blá blá. Tudo bem. Tem até um pouco de lógica em toda essa ladainha, mas saudade nada tem a ver com o que está certo ou errado na vida agora. Nada tem a ver com o presente. Saudade é saudade. É querer algo de volta porque foi bom e foi marcante e foi único. Algumas vezes na vida, a gente sabe quando, dificilmente, será capaz de sentir aquilo novamente. E é disso que a gente sente falta, do que não pode mais existir.
É porque a saudade pega a gente de um jeito sem medidas. É aquele bombom que passa voando e que a embalagem dele faz lembrar alguém. É aquele perfume que ressurge de algum lugar e que a gente fecha o olho e lembra do alto da roda gigante e da noite estrelada. A gente nem percebe e já está ali, paralisada e encostada na árvore e tudo isso porque uma lembrança passou meio que de repente, na cabeça. E foi bom lembrar, e foi bom sentir um pouquinho daquilo de novo, nem que dure o tempo máximo de cinco segundos. É a vontade de ter, de viver e de sentir só mais uma vez.
No fim de tudo, eu percebi que é de tudo que eu sinto saudade e que eu estou completamente ferrada. Eu sei, não é fácil e também não pode ser normal essa minha vontade absurda de voltar atrás. Mas, tudo bem, deixa ser. Deixa estar. Um dia ela passa.
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28 de fev. de 2011
"You are a nice girl, pretending to be a bad girl"
Durou o tempo que foi merecido.
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"You are a nice girl, pretending to be a bad girl". Foi com essa frase sua que fui dormir noite passada. A gente tinha acabado de chegar de uma festa e deitamos na sua cama, um de frente pro outro. Você olhando pra mim com seus olhos quase tímidos e, ao mesmo tempo, prontos para atacar. Foi quando eu sorri meio que maliciosamente e você me descobriu. Eu travei, quase que cética, por você ter me descoberto tão espontaneamente e descaradamente que me surpreendeu. Você não precisou de muito para saber tudo aquilo que eu estive negando por todo o meu tempo. Talvez eu tenha te dado de bandeja o que eu nunca nem mesmo mostrei pra ninguém. Talvez algo me fez sentir-se imune a ti.
O quarto estava escuro e eu podia ouvir a melodia de uma música calma que vinha da porta entreaberta. Eu lembrei o dia que saímos para jantar e que você pediu uma salada só pra me acompanhar numa dessas dietas malucas, que quase nunca funcionava. Você comia fazendo careta e, entre uma garfada e outra, tomava dois goles de cerveja, contrariando todo o plano que você teve de começo. E eu achei a atitude mais ingênua e doce do dia. Você pagou a conta e quando a gente estava de saída, você se ofereceu pra segurar minha bolsa pesada que parecia maior que eu. E eu queria mesmo tirar uma foto, só pra mostrar aos duvidosos o tamanho da sua sensibilidade. É porque você era gentil e, ao mesmo tempo, esnobe. Você tinha aquele jeito selvagem de sorrir com os olhos, com a boca e com os seus cílios enormes de cor clara.
Eu fui dormir pensando no nosso primeiro encontro, de como o seu sorriso me dizia mais do que devia e como você ficava bravo por isso. Eu lembrei o desespero que me deu por você ter me ignorado por longos seis dias. Eu podia jurar que no dia seguinte você iria ligar e não aconteceu. Nenhum sinal. Foi quase como um soco na minha cara e eu quase pude ouvir vozes que repetiam "I told you, I told you". E me deu uma raiva e uma vontade de te procurar só pra fazer você cuspir toda a sua farsa de bom moço. Mas aí, numa tarde vazia, eu senti meu celular vibrar e era você, se desculpando pela demora e sacudindo o meu dia. No meio de uma avenida movimentada, eu lembro bem, soltei as mãos do volante e comecei a cantar bem alto feito uma louca mas feliz. Naquele dia, minha alegria se extravasou por todas as beiradas e eu nem pude me conter. Foi inspirador e eu me contagiei de você.
Algumas vezes, eu ficava observando você enfiado debaixo do edredom com carinha de sono e quase implorando por uma massagem nas costas. Foi quando eu comecei a me apaixonar por você. E eu lembro que ficava brava quando você exibia aquela cara de "é só mais uma" sempre que perguntava o dia que eu teria que ir embora, mas, na verdade, não querendo que esse dia chegasse. Você apertava meu braço com força, me pedindo pra ficar a noite toda e quase me fazendo chantagens. Eu lembro que os meus dias ficaram alegres, bem humorados e cheios de você. E eu senti saudade de quando eu saltava da cama ao ouvir o primeiro toque do celular e das dores musculares causadas pelos movimentos apressados pra te encontrar.
Sem perceber, eu já tinha te entregado tudo. Eu já tinha me disponibilizado inteira pra você. E eu costumava me perguntar se você também se sentia assim ou se eu estava fantasiando demais aquelas noites repentinas. Uma vez, eu quase me convenci disso e quase desisti de tudo, não fosse por aquela noite quando você chegou de mansinho e disse a frase mais doce que eu já ouvi em toda a minha vida, "I could be here, the whole night, watching you". E eu pensei que tinha entendido errado e que meu inglês estava murcho e enferrujado. Mas não estava. E eu sorri com o coração como eu não fazia a muito, muito tempo.
Eu fui pra casa tonta, sem ar e quase inconsciente de tanto martelar na minha cabeça de que poderia não ser nada ou que poderia ser um blefe ou a garantia de uma próxima noitada. Aquilo me atacou a noite inteira e todos os meus dias seguintes. Eu só pensava em você e de como eu tinha vontade de cruzar com o teu olhar em cada esquina ou em qualquer mesa de bar que eu fosse. Você construiu e fez parte dos melhores meses daquele ano distante e independente da minha vida. E eu mudei completamente de idéia e rezei com as mãos grudadinhas para que o tempo demorasse o dobro do que o normal, a passar. Eu não queria saber do que estava por vir nem, muito menos, do que não iria mais existir. Mas você teve medo e reagiu. Você percebeu antes que eu pudesse me preparar e sumiu, devagarzinho, como quem quisesse culpar as circunstâncias que surgiam.
Eu lembro bem daquela noite um pouco fria e sozinha quando você me deixou ir, sem nem insistir que eu ficasse por mais cinco minutinhos. E eu senti que algo tinha mudado. Você ficou o tempo todo de cabeça baixa, com os olhos desviados e com um sorriso acanhado. Você perguntou mais uma vez quanto tempo me restava e eu já sabia do que se tratava. E eu percebi que não haveriam mais noites engraçadas, abraços espalhados ou até mesmo aquele seu português arranjado. E eu senti saudade de quando eu fui pra casa vestindo a sua camisa tamanho large e me sentindo completamente protegida, como se isso fosse possível. Eu lembrei quando bebi demais e você me carregou pela escada, me deitou na sua cama e me cobriu com pelo menos três edredons, jurando que não iria fazer nada. Você cuidou de mim e limpou toda a sujeira que eu insistia em fazer pelos cantos da sua casa. Não haveriam mais noites no sofá, nem sua TV ligada, nem a gente rindo do fato de você gostar de Keeping up with The Kardashians.
Os meus dias voltaram a se desbotar e eu voltei a sentir náuseas. Eu lembrei quando você pegou um dos meus brincos só pra guardar de lembrança, quase que fazendo piada pelo fato de um dia eu ter que ir embora. E pra quê se, no fim, você partiu por esse mesmo motivo. E eu ainda te liguei algumas vezes, cheia de desculpas esfarrapadas só pra ouvir o que você tinha a dizer. Mas não dava você já tinha desistido da gente.
Eu, então, mudei junto com aquilo que você deixou em mim e fiz um monte de bobagens. Me fantasiei, me pintei e me disfarcei só pra você acreditar que eu poderia ser uma dessas garotas que não dá a mínima pra nada. Nem pra ninguém. Mas não funcionou e eu tive certeza de que você estava certo o tempo todo e que eu era mesmo o que um dia você tinha dito: uma boa menina que tentava ser "má". Eu deixei passar e fui conseguindo aceitar que não existia mais você nem, muito menos, nós dois caminhando pela calçada. Eu fui topando com as tuas palavras cruzadas e o tempo passou mais rápido. E foi no dia do meu vôo marcado que eu te mandei uma mensagem de texto e te disse adeus pelo toque de um celular. Você respondeu uns vinte minutos depois e a minha vontade foi de te dá um último abraço. Mas eu não tive coragem e nem você me pediu. Eu juntei, então, as minhas malas pesadas e voltei pra casa.
21 de fev. de 2011
Nós dois, uma sala de aula
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Você veio de mansinho e sentou pertinho, do meu lado. Você achou que eu não saquei, mas eu vi quando olhou, a primeira vez, pelo canto do olho assim como quem não quer nada. E, depois, soltou um risinho que parecia estratégico, parecia até combinado. Foi estranho ver um cara como você assim, alto, forte, daquele tipo que não facilita pra ninguém, chegando na sala de aula e já dando aquela breve checada. Eu quase fiquei vermelha, não fosse pelo meu tom de pele que me livra desse tipo de evidência. Eu até fingi que não era comigo. Aliás, de fato, eu acreditei não ser comigo. Olhei pra trás, pro lado, pra frente e me dei conta de que era eu mesma e que estava sendo ridícula. Fiquei toda atrapalhada e estraguei tudo ao soltar um sorrisinho tímido quase que pedindo licensa pra poder existir.
Me segurei, me obriguei a não agir feito uma tonta e não adiantou. Soltei os cabelos e comecei com aquela mania irritante, que quase toda mulher tem, de ficar rebolando-os de um lado pro outro quando percebe que está sendo analisada. O professor falava, falava e eu fingia que entendia tudo, afinal é um ponto positivo a idéia de ser inteligente, esperta, cheia de conteúdo. E pra quem acha que a teoria de ser do barulho ou do fundão é sinal de ser charmoso e atraente, está completamente ultrapassado. Na verdade não passa de puro cinismo disfarçado. Ninguém gosta de gente burra. Então, lá estava eu, lá estávamos nós, com o livro aberto e a coragem de arriscar olhar, mesmo com a cabeça meio baixa e com o corpo um pouco curvado.
Perdida naquela concentração absurda que era exigida, eu deixei escorregar todo o meu estojo de lápis. A sala inteira me observava, inclusive você, só que dessa vez, sem precisar encobrir nada. Eu deixei, então, o cabelo esconder um pouco do meu rosto, numa mistura que acreditei ter sido de vergonha mas também de charme e fui sumindo, sumindo, até que ninguém mais estava olhando e eu dei de cara com as suas sobrancelhas sobressaltadas. E eu quis correr e eu quis sumir mas, a verdade, é que eu gostei do seu riso cínico antes de olhar pra frente para que eu pudesse sentir-me um pouco aliviada. E eu ainda grudei meus olhos em você por alguns segundos, tentando decifrar um pouco do que era aquilo tudo e qual poderia ser a sua música preferida.
Alguém bateu na porta e, ofegante, entrou uma menina alta, de cabelos longos e saia curta como uma daquelas patricinhas perfeitinhas e atrasadas. E você a acompanhou pelos passos, de cima a baixo. Eu virei o rosto e tentei advinhar quem de nós dois iria desistir primeiro. Você, por ter duas opções fáceis ou eu, por não querer bancar a babaca concorrendo a um posto de Miss Ninguém na sua lista disputada. E que se foda você, e que se foda ela e que se foda essa aula!
Eu não aguentei. Olhei, também, para aquela menina de cor pálida e, por fim, me convenci de que ela não era de nada. Um pouco de satisfação surgiu ao ver aquele cabelo todo assanhado, aquelas unhas enormes e aquela respiração ofegante por estar fora do horário. E eu esperei pelo bendito minuto em que você também iria perceber que ela é mesmo uma sem graça desastrada e aperriada. Não demorou muito e você encostou as costas na cadeira de trás e fingiu relaxar. Você tentou alongar o pescoço e, entre um segundo e outro, você conseguiu virar. E me olhar.
É um jogo meio rápido e, numa tentativa ou noutra, nós dois caíamos na nossa gargalhada contida, escondida e cheia de malandragem. Tudo isso porque nenhum dos dois conseguia dar o primeiro passo. Você não sabia meu nome e nem eu sabia o seu. Estávamos juntos, na curiosidade. E foi durando toda a aula até que chegou a hora da lista de chamada. Você atento de um lado e eu não querendo perder nada. O professor chamou o seu e o meu nome, e já tava tudo gravado. No fim, rolou aquele pequeno mistério de um olhar safado. E um plano foi, então, traçado.
Eu te acho, você me acha. No orkut, facebook, twitter ou até mesmo no blog da faculdade, mesmo sem trocar uma só palavra. E, foi assim que ficou combinado, embora, eu ainda prefira o tempo do envergonhado começo de fala: ei, me empresta sua borracha?? Meu nome é fulano, qual o seu?? Era tudo tão mais fácil! Mas, tudo bem, eu gostei do teu jeito tímido de escapar olhares.
E, agora, eu mal posso esperar pra saber qual o teu filme ou o teu livro favorito e a comida que você mais gosta. E eu quero saber o que mais você faz, do que você sente falta, do teu time preferido e se você tem namorada. E eu vou te checar nas fotos e observar o teu sorriso, nos mínimos detalhes. E você também, quem sabe. E, talvez com sorte e coragem, a gente solta um "OI" pro outro, estupidamente planejado, na próxima aula.
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10 de fev. de 2011
Olhos gastos
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Outro dia saí com algumas amigas para um barzinho qualquer. Um desses aí, de esquina. A noite foi maravilhosa. O problema foi o espanto no dia seguinte. É que, ao rever as fotos, algo estranho eu pude encontrar naquelas poses inusitadas, naqueles sorrisos um pouco forçados e naquela alegria meio que imediata. Algo estava errado. Meus olhos pareciam cansados. Não sei de quê, não sei porque. Mas eu senti que ali não era eu mesma. Algo estava diferente e foram as lentes de uma simples câmera fotográfica que me acordaram para a realidade.
Meus cabelos estavam lindos e minha pele parecia saudável mas meus olhos, não sei, algo neles faltava. Eu me senti feia, normal e sem alegria. Pior é que eu jurei que aquela noite tinha sido uma das melhores que já tive. É como se algo estivesse me martelando por dentro e só os meus olhos estivessem sofrendo todos os efeitos disso. E eu quis saber porque. Eu implorei, supliquei e choraminguei em frente ao espelho, tentando entender o porque que os meus olhos pareciam tristes, sem brilho e sem graça. A minha vida estava ótima, tudo estava ótimo. Pelo menos, eu achei, acho que estava. Tentei novas poses, novos ângulos e não adiantou. Resolvi, então, apelar para a maquiagem. Tentei cores de sombras diferentes e exageradas, rímeis com super poderes e até um daqueles iluminadores, algo que nunca experimentei, só pra tentar consertar o que parecia torto, sem riso, sem nada. Não deu certo. A maquiagem ficou perfeita e até me surpreendi comigo mesma. O problema é que bem no fundo, por trás de toda aquela frescura, algo continuava intacto e os meus olhos continuavam fatigados.
Fiquei irritada e, num gesto só, joguei todo o meu conjunto de maquiagem no cesto de lixo. De que me adiantava tentar esconder aquele olhar abatido e gasto se pra mim, não mudava nada? Eu sentei na cama, cética e sem movimentos. Me angustiava aquela sensação de não saber, de não sentir, de não poder resolver. Pensei que poderia ser culpa das longas horas de frente a televisão e às poucas horas de sono. A verdade é que eu sabia que não era nada disso. Eu sabia que, de fato, algo faltava.
Comecei a vasculhar algumas fotos, um pouco antigas. A diferença foi visivelmente atirada no meu rosto já pálido. Eu mudei. Algo mudou. O pior de tudo é que não havia uma razão óbvia, evidente, clara. O contrário, tudo parecia cada vez mais escuro e nem minha intuição resolveu se impor. Só pode ser loucura, desvio. Sei lá! Não me agradava a idéia de estar sem cor, sem encanto, sem magia. Não me agradava a idéia de ter olhos vazios.
Desliguei a luz do quarto, deitei do lado direito da cama e fechei meus olhos num ato imediato. Eu senti o coração pesado, complicado e revoltado. Algo perdera o sentido ali, naquele metro quadrado. Lembrei da noite, no bar, com as amigas. Me dei conta de que estava sim feliz, apesar de estar com os olhos cansados. Descobri que era possível, embora não me aliviasse quase nada. Pensei, pensei e pensei mais um bocado de vezes. Tentei sorrir e fingir que estava tudo bem e que tinha sido só mais um drama, daqueles que a gente inventa pra sacudir um pouco o coração. Mas as fotografias não sumiam da minha mente. Estavam presas ali, como fantasmas impossíveis de espantar.
Abri, então, os meus olhos. O escuro já tinha tomado conta de todo o quarto. E aquela sensação de estar perdida, me deixou ainda mais inconsolada. Algo, dentro de mim, estava apertado e quase podia me sufocar. Daí, uma esperança daquelas que assopram no peito, aconteceu de repente. Olhei pra cima, para um lado, para o outro e nada. Estava desesperada. Foi, então, que a resposta chegou e me tapiou três vezes na cara. Eu estava cansada de ver o mundo mas de não enxergá-lo. Foi aquele aperto de mão que dei sem querer, foi aquele sorriso que deixei escapar, foi aquela ajuda que eu não quis aceitar. Foi o cansaço de me ver todos os dias, e não me enxergar a ponto de não me amar. Sim, meus olhos estavam cansados de ver e de não enxergar. E eu estava cansada, de não me cansar.
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English version:
http://feetinclouds.blogspot.com/
5 de fev. de 2011
O dia que eu decidir abrir mão de você
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Meu coração já quase escapou batidas de tanto acreditar nas vezes que jurei te esquecer. Desenhei novos lugares, novas caras e novos personagens num pedaço de papel em branco. Colei bem na porta do meu quarto, de frente pra mim, só pra esquecer o brilho do teu olho cor de mel. Não funcionou. Eu até conseguia imaginar um novo rosto, uma nova forma e sentir um novo cheiro. O problema é que você ficava feito uma sombra ao redor de tudo. Eu quase podia ouvir você gritando para me alertar que eles nunca seriam você e que eu parasse de ser boba. Daí eu me rendia a compará-los e, no fim, você sempre ganhava.
É que aquele bonequinho que parecia perfeito, na verdade não era. Ele não tinha o seu jeitinho de contrair a boca e nem as suas sobrancelhas um pouco elevadas, quando queria me fazer sentir vergonha. Ele nem sequer olhava pra mim. Eu tentei, tentei e tentei, mas de alguma forma os olhinhos sempre se desviavam pro outro canto do quarto. Cheguei a acreditar que precisava de terapia. É que me dava desespero não conseguir fazê-lo olhar pra mim do jeito que você costumava olhar. Aquele olhar apertado e centrado que me amolecia. Eu desenhava e apagava. Pelo menos umas quinze vezes. De tanto tentar, o rostinho dele ficou esquisito. E então, como eu poderia substituir você?
Uma vez, eu cheguei até a perfumar o papel com um desses frascos que a gente guarda com peninha, só para momentos raros. E, mesmo assim, não adiantou. Desisti, então, daquele desenho torto de cores falsas. E eu pensei no cheiro que tinha a sua camisa que me fez desnorteada e foi difícil cair no sono. Na manhã seguinte, eu lembro bem, eu quis até vestí-la o dia inteiro só pra me sentir mais perto de você. Só que ela não me serviu muito bem. Eu me olhava no espelho e insistia em te achar e, então, cansei das várias voltas ao redor do banheiro.
A verdade é que algo seu ficou grudado aqui e eu não consigo me desfazer. Já passei madrugadas assistindo filmes de romance e cheguei a decidir que você já passou e que eu estou feliz. Até pude rir, um pouco, do meu alívio curto. E, então, eu lembrei daquela noite em que você me puxou pela mão, pra pertinho do seu rosto e perguntou quando a gente ia se ver. E me deu vontade de voltar para aquela noite, naquele bar. Já até tentei me convencer de que sua cabeça é meio desproporcional para o resto do seu corpo e passei horas de frente pra parede, insistindo pra mim o quanto egocêntrico você é e o quanto você erra, perde e omite. Eu procurei um defeitinho só para não amar você.
Eu quis fugir, eu quis me entupir de algo que não sei só pra esquecer que você existe. Eu desejei voltar para aquela noite, quando eu te conheci só pra marmelar toda essa fantasia boba que eu criei e que insiste em me puxar os cabelos, bem no meio da noite. Eu queria escapar dessa terrível sensação de que já te dei tempo demais.
Eu já até cheguei a acreditar que, talvez, você fosse uma afronta a natureza. Só assim para explicar aquela mania medíocre de fincar os pés no chão e sussurrar um “Oi” encabulado, quase sem mover os lábios.
Um dia, eu senti raiva de mim e quase me desprezei por insistir, estupidamente, em ver beleza no seu silêncio e paixão nas suas palavras pequenas, tortas e avulsas. Eu senti raiva de você e me deu vontade de te espancar e te chutar por você ser tão perfeito e, por quase me fazer pedir desculpas ao resto do mundo por ter te olhado a primeira vez.
Eu percebi que quando sinto vontade de partir pra outro lugar, há sempre uma palavra e um abraço teu que vem comigo. Quanto mais eu tento me decidir de que você não foi nada e de que eu estou bem, mais eu sinto aquela sensação de que você também carrega algo meu. E que eu não quero ter de volta. Algo me faz acreditar que esse amor se chega mais perto de não se acabar. E, então, eu decido desencanar e o meu coração percebe que não foi dessa vez, de novo. Um dia, quando eu não mais tentar me desculpar por você ser tão perfeito, eu crie coragem de me olhar no espelho e dizer que eu sou mais eu. E, assim, eu vou abrir mão do que, um dia, foi você.
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27 de jan. de 2011
Meramente fingindo
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Era uma madrugada de outono. Você e eu, sentados no topo de um telhado baixo. Estava frio, você me deu o casaco e me abraçou de repente. O seu corpo no meu, um calor agradável. Estamos contando histórias de conto de fadas e fingindo que acreditamos em toda essa palhaçada. Nossos olhos brilham no escuro da noite. Dormir não é uma possibilidade. Estamos no telhado, observando a pequena cidade em paz. Daqui, podemos ver vidas. Gente de verdade. De um lado, alguns amigos que parecem bêbados e felizes, abraçando uns aos outros como velhos amigos fazem. Do outro, aquele casal de estranhos que se ama por uma noite e que, provavelmente, amanhã nenhum lembrará do outro. Mas que, por agora, eles estão indo pra casa apaixonados. A polícia dá voltas, como se algo tivesse que ser resolvido. E, incrivelmente para uma madrugada de sexta-feira, não há. Parece que o mundo está em nossa mesma sintonia.
Acabamos de sair de um bar. Ir pra casa não é uma opção. Está frio e você está fumando um cigarro. Escondemos bebidas na bolsa e no casaco. Não há nada que eu queira a mais. Estamos advinhando desenhos em nuvens. Só pra passar o tempo. Você me conta histórias da sua vida e eu te divirto com algumas das minhas noites mal dormidas. Num minuto ou noutro, você me beija. Um toque suave, delicado e ao mesmo tempo selvagem. Estamos tranquilos. Somos amantes.
Sem que você perceba, eu me paraliso e me fixo no seu sorriso mágico, que me faz acreditar que tenho tudo comigo. E, de fato, eu tenho. Eu senti sua falta e achei que fosse passageiro. Me enganei. Pensei em você e em estar ao teu lado quase todas as noites, antes de adormecer. Nada do que você dissesse ou não fizesse iria me livrar. Eu precisava correr pra pegar o primeiro vôo de volta e te encontrar mais uma vez. Você não me garantiu nada e eu sabia das minhas condições. Eu decidi pôr tudo em risco. Deu certo e eu estou aqui. Você segurando minha mão e eu no aconchego do teu colo, sentindo a tua respiração tranquila. Tudo está certo, tudo está exatamente como eu desejava e nada me abala agora. Olho em volta e não há nada que eu queira acrescentar. Sim, eu tenho tudo.
Mas aí, algo me cutuca. Me remexe. Me sacode. Tá, tudo bem. Não é nada disso. Eu só queria fingir um pouco e ser feliz.
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24 de jan. de 2011
Distração
O papo entre amigas
Você nunca sabe o que realmente rola numa conversa entre amigas. Elas eram três nesse dia. Era de manhã cedo em Fortaleza, num dia de semana e no caminho para a faculdade.
- É que ele perguntou por mim, sabe? Mas porque, se ele não me liga, não me procura? Perguntar só por perguntar? Melhor não né?! – Uma dizia.
- A festa de sábado foi o máximo! Conheci um cara muito gato e trocamos telefones! Será que ele vai ligar? E eu? Será que ligo se ele não ligar? – A outra se perguntava.
-Ah, ele demonstra que quer, mas tem namorada. Qual é a dele? Dá bola, fica de conversinha comigo, mas não larga a outra! – A terceira lamentava.
O trânsito estava um horror, como de costume. O caminho era mais longo, pois a que estava dirigindo precisou deixar a irmã mais nova no colégio antes de ir pra faculdade. A conversa estava irresistível.
- O problema é que ele não quer. Pergunta por mim, mas na verdade é só por costume. Afinal, dizem que quando o homem está interessado ele sabe como conseguir, não é? – A primeira desabafou.
- O problema é que ele é da farra! Por isso ele ainda não me ligou, já deve ter conhecido outras! Será que eu ligo? – Ela precisava se controlar.
- O problema é que ele quer as duas! Só pode ser! Ou, talvez, esteja me deixando na reserva pra quando terminar o namoro já me ter disponível! Mas nem que "a vaca tussa!" – Era uma ilusão.
Havia apenas uma explicação para o problema das três. O cara tava em outra, ou, em outras. Qualquer um de fora seria capaz de enxergar essa agravante com facilidade. E, no fundo, elas também. Difícil era fazer com que três mentes femininas pensantes, assumissem isso.
Dessa forma, pra quem mesmo sobra toda a culpa?? As próprias mulheres!
- O problema é a irmã dele! Ela não gosta de mim e com certeza fica tentando convencê-lo de não me procurar. Isso não é justo! – Pobre da irmã.
- O problema são as outras! Gente são quase 200 mil mulheres a mais que homens só em Fortaleza. Sem contar, que é um bando de oferecidas! – Pobre das outras.
- O problema é a namorada! Ela sempre se faz de vítima pra que ele tenha pensa de terminar com ela. – Pobre da namorada.
Conversa vai e conversa vem. A discussão estava séria. Pode imaginar três mulheres iludidas juntas? É muita conversa em jogo e isso requer muita atenção e energia. O tempo estava passando e elas estavam cada vez mais falantes. Era impossível chegar ao fim daquela conversa se algo mais extraordinário que três homens desinteressados não surgisse pelo caminho. A conversa terminou. Logo, algo de extraordinário aconteceu.
RIO DE JANEIRO, SALVADOR OU RECIFE
Sim, era uma placa bem no meio da avenida. Elas erraram feio o caminho e nem perceberam que já estavam dirigindo por mais de uma hora. Resultado? Elas perderam a prova do primeiro horário e, ainda assim, caíram na gargalhada. E nessa hora, homem nenhum se mete entre elas.
E só quem tem conversas entre amigas é que entende!
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7 de jan. de 2011
Ressaca emocional
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Estava cansada e, pior, de ressaca emocional.
-Sabe quem perguntou por você ontem?
Tá, era tudo o que eu precisava para dormir bem, depois de uma festa sem graça. Minha cabeça doía e pesava feito um tijolo acimentado. Meu corpo todo estava exausto. Parecia que tinha participado de uma daquelas maratonas de ciclismo quando você se pergunta como alguém consegue pedalar tão rápido, em tão pouco tempo. Eu só queria minha cama. Eu só queria você.
Meu cabelo estava um nó. Meu rosto sujo com maquiagem porque nem coragem e cabeça eu tive pra removê-la. Eu fui dormir pensando em você. Pensando em como eu queria estar ao teu lado, deitado de conchinha e assistindo um daqueles filmes que passa na tv. Eu saí pra festa tentando te esquecer e não poderia ter feito uma escolha mais ignorante. Como querer ficar bonita se todo o brilho que existia em mim, está com você?
Estava no banho e tudo o que eu desejava era te ver ali, me estendendo a toalha e me abraçando para me enxugar. Não aconteceu. Usei, então, o vestido mais bonito, o salto mais alto e a maquiagem mais exótica que pude encontrar. E eu me senti tola. E eu me senti feia, sem graça e enfiada num vestido que não me caía bem. Nada iria me agradar e como poderia se a minha única alegria seria a de te ver girando a chave do nosso apartamento mais uma vez? E eu me pergunto, com quem você está dormindo abraçadinho agora? A quem você está susurrando palavras de amor no ouvido? E que sorte a dela. E que sorte a sua.
Você perguntou por mim. Fiquei inquieta e rodei na cama. Baguncei ainda mais os cabelos, sem sono. Eu sinto sua falta. É o seu cheiro forte, as suas mãos grandes e o seu sorriso que parece me dizer algo. De repente tudo se misturou aqui dentro como se algo tivesse que ser encontrado. Não sei se foi. Poderia ter feito menos bagunça em mim?
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